Publicado em 26 de abril de 2018 por Mecânica de Comunicação
Uso de reciclados do gesso é prática viável para a construção civil
A discussão sobre o uso do gesso muitas vezes leva em conta a sustentabilidade, pois há alto grau de desperdício em função da propriedade de endurecimento rápido, gerando muitos resíduos de construção e demolição. Uma das soluções seria reintroduzir o gesso na cadeia produtiva, por meio da reciclagem dos resíduos do material. No Brasil, tal solução ganha respaldo com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos e, portanto, do aumento de responsabilidade dos geradores de resíduos, como construtores e fabricantes.
O uso do gesso pela construção civil brasileira é referenciado pela ABNT NBR 13207:2017 e estabelece exigências físicas e mecânicas mínimas, além de aspectos de recebimento e manipulação do material. Os resíduos de gesso para uso em revestimento, placas de forro, moldura de acabamento e outras peças também devem atender aos mesmos requisitos de desempenho, em categorias como propriedades físicas, mecânicas, química e de microestrutura. Uma técnica largamente empregada no tratamento do gesso reaproveitado é a calcinação, ou seja, submeter o material a altas temperaturas, objetivando alterações na estrutura cristalina. Estudos nessa área já concluíram que o gesso reciclado, em alguns casos, tem propriedades mecânicas de resistência à compressão e tração com valores superiores aos do gesso comercial de referência.
Sobre o gesso reciclado transformado em pasta, já foi demonstrado que os tempos de início e fim de pega do material são maiores se comparados aos das pastas produzidas com gesso comercial. Isso acontece porque o material reciclado exige maior relação de água/gesso, influenciando na cinética de hidratação da pasta. Também já foi provado que há influência direta do tempo, temperatura de calcinação e do fator água/gesso nas resistências à compressão e à tração na flexão. Gessos reciclados de placa GP8, por exemplo, já demonstraram melhores resultados quando calcinados à 200° C por 2 horas. Os gessos reciclados de revestimento GR9, por sua vez, são mais bem aproveitados quando calcinados por 4 horas, com ação da mesma temperatura.
Embora viável, a aplicação da reciclagem do gesso na construção civil, ainda exige cuidados como, por exemplo, aplicação de aditivos para aumentar o tempo de trabalho da pasta de gesso. Outras observações sobre o assunto estão presentes na dissertação Reciclagem de Resíduos de Gesso de Construção para uso em Revestimentos, Placas de Forro e Molduras de Acabamento, de autoria de Carlos Alberto Hermann Fernandes, orientação de Janaíde Cavalcanti Rocha e defendida na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).