Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 31 de agosto de 2010

Sobratema Fórum 2010 – Brasil Infraestrutura mostrou os desafios para o setor nos próximos anos

Palestrantes convidados e divulgação de dados sobre investimentos em infraestrutura até 2016 foram os destaques do evento.

Com a participação de mais de 450 congressistas, entre empresários, executivos e especialistas de diversos setores industriais, o Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura, realizado em 14/10/10 em São Paulo, levantou relevantes questões sobre o futuro da infraestrutura brasileira, que deverá concentrar investimentos de R$ 1,3 trilhão até 2016.

Para Mário Humberto Marques, vice-presidente da SOBRATEMA - Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção, promotora do evento, esse desenvolvimento será importante para resolver os gargalos logísticos ligados à infraestrutura a fim de garantir a competitividade das produções brasileiras de commodities e de produtos manufaturados e semimanufaturados, além de solucionar demandas sociais há muito negligenciadas. “As informações recebidas neste fórum mostram os grandes desafios que os órgãos governamentais e o empresariado brasileiro terão pela frente por isso é necessário haver um trabalho contínuo e em conjunto entre as duas partes”, afirmou.

Um desses desafios está relacionado ao financiamento das obras para a infraestrutura uma vez que a estimativa de elevação acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) no período de cinco anos não irá acompanhar o mesmo ritmo de crescimento do setor. De acordo com Yoshio Kawakami, presidente da Volvo Construction, o incremento do PIB será, pelo menos, 20% menor em comparação ao índice apresentado pela infraestrutura.

No entanto, Kawakami chamou a atenção para as oportunidades que os países do BRIC, em especial Brasil e China, oferecem para as construtoras, mineradoras e outras áreas da infraestrutura. Em sua palestra no Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura, o executivo ressaltou que esses países liderarão os investimentos em infraestrutura, com destaque para o segmento de energia. Além disso, mostrou as diferenças entre as prioridades nos aportes financeiros existentes no setor entre os BRIC’s e as nações da América do Norte, Europa e Japão.

O professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, também afirmou que o Brasil é uma das grandes fronteiras mundiais para investimentos privados e para PPP’s. No entanto, segundo ele, existe uma incompatibilidade nas agendas da infraestrutura e da política, o que complica a garantia desses investimentos. “O País precisa de investimentos de US$ 30,2 bilhões/ano em projetos no setor da infraestrutura, sendo US$ 8,6 bilhões em energia, US$ 9 bilhões em logística, US$ 5,6 bilhões em mobilidade urbana e US$ 7,0 bilhões em telecomunicações”, enfatizou.

A palestra de encerramento do Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura ficou a cargo do arquiteto e urbanista Siegbert Zanettini, professor titular da FAU-USP. Em sua apresentação, mostrou a falta de um projeto de país para o Brasil, no qual a sociedade, o governo e a indústria caminhem para uma mesma direção a fim de superar os desafios impostos pelo mundo. “As cidades estão paralíticas, se desenvolvendo de forma precária e caótica. São Paulo, por exemplo, tem um transporte incoerente, no qual os cidadãos perdem horas no congestionamento”, ressaltou.

Zanettini criticou ainda a camuflagem das grandes questões que envolvem o país por conta da mudança e falta de continuidade nas gestões governamentais e, também, a postura de alguns setores industriais. “O empresário precisa ter uma visão transformadora da realidade e montar um planejamento a longo prazo, para vinte ou trinta anos. Ele pode combater essa visão predatória que, ao invés de construir, está destruindo”, enfatizou.

A solução, segundo Zanettini, está na forma como são pensadas as questões de infraestrutura. Um exemplo, citado por ele, é a construção de soluções subterrâneas para redes de energia, visitáveis e com recobrimento de fácil remoção, que podem evitar contínuos remendos nas calçadas, limpando as cidades da poluição visual e das gambiarras. “A composição de um espaço feito de maneira séria, com uma visão que leve em conta o meio-ambiente, a sustentabilidade, e o bem-estar da sociedade, será um legado importante para qualquer centro urbano”, definiu.

“Principais Investimentos nas Áreas de Infraestrutura e Industrial Previstos no Brasil até 2016”

No quesito investimentos, a SOBRATEMA divulgou dados da pesquisa inédita “Principais Investimentos nas Áreas de Infraestrutura e Industrial Previstos no Brasil até 2016”, que analisou 9.550 obras em todo o país, cujo orçamento estimado é de cerca de R$ 1,3 trilhão.

Segmentada por região e estado, o relatório tem como objetivo mapear, estruturar e organizar as informações e obras, tornando-se uma importante ferramenta para a cadeia produtiva do setor, auxiliando no direcionamento do planejamento estratégico de empresas, do mercado e demais setores envolvidos com o segmento.

O trabalho também apresenta as perspectivas de 11 segmentos considerados relevantes na área de infraestrutura do Brasil. São eles: energia, combustível, saneamento, transporte, habitação, Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, hotel&resort, shopping, privado e outros (hospitais e universidades). Além dos dados numéricos, a compilação oferece um ranking com as 30 mais importantes obras por área.

 

Crescimento criou um enorme volume de demanda no Brasil

“A demanda por produtos e serviços, incluindo energia, vem crescendo acima do PIB nos últimos anos e o país precisa estar preparado para atender as aspirações dos brasileiros; em pouco tempo a classe média saltou de 30 milhões para 100 milhões de consumidores”, disse o economista Miguel Colasuonno, diretor da Eletrobrás, em sua palestra no Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura.

Em razão de o Brasil “estar extremamente ansioso por demandas”, segundo Colasuonno, é dever da Eletrobrás atender as necessidades em energia. “A empresa vai contratar mais 40 mil megawatts para os próximos seis anos, incluindo energia hidrelétrica, termonuclear, eólica e de biomassa”, garantiu. Isso inclui as usinas de Belo Monte e Tapajós e a projeção da 4ª usina termonuclear a ser construída possivelmente no Nordeste, de acordo com ele.

Assim mesmo, o economista defende maiores investimentos da iniciativa privada na área energética, pois hoje o Orçamento da União é pequeno se comparado às necessidades em energia. Para ele, a nação tem o privilégio de deter as mais diversificadas matrizes energéticas, mas faltam recursos suficientes para desenvolvimento de grandes projetos. “O Brasil tem que ser o país do presente, senão não haverá futuro”, ressaltou.

Potencial do pré-sal

O gerente de planejamento da Petrobras/E&P-Presal, Mauro Yuji Hayashi, mostrou que o pré-sal é a nova fronteira da indústria de petróleo, “e essa fronteira tem apresentado enorme índice de sucesso”. “Temos 41 poços perfurados e em 85% foram encontrados petróleo em termos exploratórios. Nossa autossuficiência, obtida com o pré-sal, poderá ser mantida por décadas”, garantiu durante apresentação no Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura.

Para Hayashi, com a exploração do pré-sal abrem-se oportunidades de investimentos privados nas áreas de engenharia e indústria nacional, como no setor naval com a construção de embarcações, cascos, sondas de perfuração e plataformas de produção, assim em termos de equipamentos e serviços. “Demoramos 45 anos para atingir 1 milhão de barris e com o pré-sal, vamos dobrar a produção em apenas 12 anos. Essa é a Petrobras que os brasileiros estão construindo”, concluiu.

Legado da Copa do Mundo 2014

Uma das questões levantadas por Leon Myssior, vice-presidente do Sindicato da Arquitetura da Engenharia (Sinaenco) e coordenador do fórum dos arquitetos da Copa do Mundo de 2014, em sua apresentação no Sobratema Fórum 2010 - Brasil Infraestrutura, foi a preocupação com o legado que o evento trará para o Brasil.

“Não há um grande projeto de desenvolvimento estratégico que engloba ações nas áreas de energia, mobilidade urbana, telecomunicações. E isso é uma temeridade”, enfatizou. “Além disso,

os projetos da Fifa “herdam” especificações e diretrizes de modelos europeus e, com isso, grande parte dos estádios desconsidera sua interface com o entorno”, opinou.

Para o arquiteto e urbanista Siegbert Zanettini, não é a Copa do Mundo que deve movimentar as ações estruturais na cidade. “O certo seria realizar os empreendimentos e as melhorias para o bem do município e não apenas por conta de um evento isolado”, disse. “Espero realmente que as coisas sejam feitas como foi em Barcelona, em que tudo foi pensado para que a cidade pudesse ter um legado pós-Jogos Olímpicos”, concluiu.