Publicado em 02 de abril de 2013
Depois dos fracos resultados de 2012, setor equilibra queda na demanda com grandes fornecimentos ao governo federal neste ano
NEGÓCIOS - INDÚSTRIA - 02/04/2013, SÉRGIO SISCARO, DE SÃO PAULO
A concessão de aeroportos, como o de Guarulhos, gera obras e impulsiona o setorDivulgação
A realização de grandes eventos esportivos no Brasil em 2013 (Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo de Futebol) e 2016 (Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro), associada às obras de infraestrutura da segunda edição do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal, traz boas perspectivas para a comercialização dos produtos da chamada linha amarela – como retroescavadeiras, motoniveladoras e pás carregadeiras.
De acordo com o estudo “Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção”, elaborado pela Sobratema (As-sociação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), divulgado em novembro do ano passado, previa-se uma queda de 3% nas vendas dos equipamentos de construção da linha amarela. Para 2013, contudo, o levanta-mento aponta uma taxa de expansão que poderá atingir 13%.
Na Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), porém, a expectativa é mais modesta. As empresas associadas à sua CSMR (Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias) produziram em 2011 um total de 30.086 máquinas, as vendas no mercado interno atingiram 24.676 unidades e as exportações somaram 9.843 equipa-mentos. No ano passado, houve uma ligeira queda – para 29.122, 23.635 e 9.085, respectivamente. Para este ano, a previsão é de estabilidade.
“O ano de 2012 não foi bom para nosso segmento. As expectativas foram muito altas e não se cumpriram”, afirma a presidente da CSMR, Andréa Park. De acordo com ela, as empresas contavam com investimentos altos em infraestrutura, especialmente por conta dos preparativos para os grandes eventos esportivos, que acabaram não se concretizando. “Todos os fabricantes, que já estão aqui no Brasil há anos, fizeram investimentos altos para aumento de capacidade de produção e isso nos levou, no final do ano, a uma capacidade ociosa de quase 40%.”
Segundo Andréa, o setor aprendeu a lição e, para 2013, busca não ser muito otimista. “Espera-se um ano positivo, mas ninguém tem a perspectiva de que seja melhor que 2012. Os resultados devem permanecer estáveis. Registramos um janeiro pior que o mesmo mês de 2012. Mas imaginamos que, a partir de março ou abril, tenhamos uma volta nas obras de infraestrutura em estradas, por exemplo; [o ritmo] deve deslanchar no segundo semestre”, prevê.
A desaceleração observada ao longo de boa parte do ano passado teve origem em uma série de fatores, de acordo com o vice-presidente da Sobratema, Eurinilson Daniel. “Tivemos problemas nos últimos anos, em razão do adiamento de diver-sas obras por parte do governo federal. O escândalo [de corrupção] no DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] afetou todos os projetos, e a ele se somou a crise mundial”, afirma.
No entanto, ele pondera que as perspectivas para este ano são boas – especialmente em razão dos financiamentos para a compra de equipamentos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social). “Temos hoje o PSI [Programa de Sustentação do Investimento], que pode reaquecer o mercado. Assim, os locadores bus-cam esse crédito para renovar as suas frotas, entendendo que é um momento interessante para isso.”
Essa confiança contida em relação aos resultados do setor da linha amarela em 2013 também transparece na organiza-ção da Brazil Road Expo, feira do setor que terá sua terceira edição realizada este mês em São Paulo. De acordo com o diretor do evento, Guilherme Ramos, há a perspectiva de que esta edição reúna 270 empresas, receba 12 mil visitantes e gere negócios entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões. “No ano passado, o setor estava meio parado. Agora, com a cons-trução de estradas, ampliação de avenidas etc., há uma tendência de retomada”, afirma, ressaltando a importância dos programas de investimentos governamentais em infraestrutura para incentivar a venda de máquinas da linha amarela.
A necessidade de acelerar as obras de infraestrutura, tanto as relacionadas com os eventos esportivos quanto aquelas mais ligadas ao segmento de transporte (como rodovias e portos), fez com que o governo federal lançasse licitações para com-pra de material dentro das duas edições do PAC. Uma das principais iniciativas nesse sentido foram as licitações do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) visando à compra de retroescavadeiras e motoniveladoras destinadas a municí-pios com até 50 mil habitantes que se candidataram junto ao governo federal para receber esses equipamentos.
“Foi uma compra gigantesca, que envolveu cerca de cinco mil máquinas [licitadas para 2013] – e foram equipamentos produzidos pela indústria nacional. Mas tivemos de fazer um esforço muito grande com o governo, para mostrar quem são os fabricantes; há um desconhecimento muito grande sobre que máquinas são produzidas aqui no Brasil”, conta Andréa, da Abimaq. E essa tendência de investimentos alavancados pelo governo poderá continuar: segundo ela, o anúncio, no início de fevereiro, da retomada das PPPs (parcerias público-privadas) é positivo para o setor. “Sabemos que são as grandes em-presas que irão, efetivamente, tocar as obras. E elas são consumidoras dos nossos produtos. Por essa razão, acreditamos em uma retomada no segundo semestre.”
A Randon Veículos, que recentemente venceu uma licitação para o fornecimento de 643 retroescavadeiras ao MDA – que se somam às 132 unidades conquistadas em 2012 – tem motivos para o otimismo com as compras governamentais. “Temos observado desde a segunda metade do ano passado, quando o governo federal decidiu fazer investimentos nas obras do PAC, um forte impacto no consumo regular de máquinas, o que deu um impulso para a indústria nacional. Para o segundo semestre [de 2013], acreditamos que haverá um crescimento nas vendas de retroescavadeiras, para obras não só relacionadas ao PAC, mas também à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpi-cos. Isso deve gerar um incremento de 7% a 8% ante o total do ano passado”, avalia o gerente comercial da Randon Veículos, Renato Franco.
A Caterpillar também vem aproveitando essas oportunidades. “As perspectivas são favoráveis para os negócios. No primeiro semestre, os pedidos governamentais, em especial do leilão do MDA, associados a um leve aumento da deman-da, têm nos ajudado a reduzir o alto inventário de máquinas prontas, que está caindo entre 30% e 60% nos últimos cinco meses”, informou a empresa por meio de sua assessoria de imprensa. No mês passado o presidente da companhia no país, Luiz Carlos Calil, afirmou que a Caterpillar conseguiu vender no leilão de novembro do MDA 2,7 mil unidades, a serem entregues até julho. “Foram negócios importantes e que impulsionam as vendas no Brasil, compensando uma menor atividade do mercado local neste primeiro semestre”, disse na ocasião.
No entanto, paira sobre o setor uma sombra que também afeta outros segmentos da indústria nacional: a competição dos produtos fabricados na China. Sem carregar uma carga tributária tão pesada quanto os bens locais, esses equi-pamentos conseguem levar a vantagem no aspecto do preço – e acabam arrebatando possíveis vendas de empresas estabelecidas no Brasil.
Para Andréa, da Abimaq, os estragos têm sido grandes. “Não dispomos de uma estatística precisa, mas, do total das 29,1 mil máquinas comercializadas no ano passado, estimamos que 25% tenham sido vendidas por fabricantes da Ásia. Eles vêm com um preço 30% abaixo do nosso e perdemos licitações para essas empresas”, afirma.
Ela acrescenta que, se por um lado os fabricantes asiáticos – e, em especial, da China – se beneficiam dos custos menores de produção para terem condições de ofertar um produto mais barato no mercado brasileiro, por outro esses equipamentos não têm os padrões de tecnologia daqueles feitos por empresas com plantas no Brasil. “Essas máquinas não têm o nível tecnológico das fabricadas aqui, onde temos motores que atendem às regulamentações de emissões [de gás carbônico] europeias e dos Estados Unidos. Como nossa regulamentação de emissões só deverá entrar em vigor em 2015, os chineses conseguem vender motores sem essas características.”
No entendimento de Daniel, da Sobratema, o Brasil conta atualmente com grandes empresas do setor instaladas a-qui, produzindo as máquinas localmente. “Eles não se incomodam tanto com a concorrência chinesa, porque os impor-tados não têm acesso às taxas de financiamento do BNDES para serem adquiridas. Quando se coloca na ponta do lápis, o preço fica próximo ao praticado pelos chineses – e aí, quem ganha é o consumidor”, afirma.
Renato Franco, da Randon, defende condições iguais para a competição. “Acho que o governo [federal] foi feliz em ter tomado algumas ações, como no caso da imposição de barreiras tarifárias. Mas não há um poder fiscalizador eficaz no que se refere à emissão de poluentes nessas máquinas, e isso nos coloca em uma disputa desigual. Muitas vezes, importam-se equipamentos que não são obrigados a seguir as exigências nesse sentido que a indústria nacio-nal deve acatar”, salienta. Já a Caterpillar avalia, por meio de sua assessoria de imprensa, que “toda concorrência é boa, desde que as condições de negócios sejam isonômicas para todos”
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