Levantamento feito pela Sobratema mostra
um volume de obras alentador para a região – R$ 99,4 bilhões. Mas menos da
metade está em andamento
Por Pedro Pereira
Nos próximos quatro anos, o Brasil deverá ter exatas 8.948
obras de infraestrutura concluídas ou em andamento, com investimentos no
valor total de R$ 1,6 trilhão. Deste montante, a fatia que caberá à
Região Sul corresponde a 1.307 obras – a um valor total de R$ 99,4 bilhões.
Entre os principais projetos da região aparecem o Estaleiro Pontal do Paraná,
a Usina Termelétrica Sul Catarinense e a Linha 2 do metrô de Porto Alegre
(confira a lista no final do texto). O s dados são de um levantamento feito
pela CriActive e e8 inteligência a pedido da Associação Brasileira de
Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema). O estudo foi apresentado
hoje em Porto Alegre.
Antes de comemorar, uma ressalva. Entre as obras previstas
para a região sul, o que está em andamento é menos da metade. Para ser
preciso, apenas 606 obras, ou 46,4%. A grande proporção (692 obras, ou 52,9%)
permanece no papel. E 9 obras, ou 0,7% do total, seguem paralisadas, ou
sem uma situação clara e oficial sobre o estágio em que se encontram.
Nada muito diferente do que acontece no restante do país. O relatório
nacional aponta 54,4% das obras ainda no papel. Os índices são
insatisfatórios, cobra o vice-presidente da Sobratema, Eurimilson
Daniel. “É um momento duvidoso do mercado [da construção civil].
Estamos há dois anos com resultados desfavoráveis e por isso a expectativa é
muito grande para 2013. O país está discutindo muita política e poucos
projetos”, impacienta-se Daniel.
Ele vê um bom volume de projetos, mas, de outra parte, uma capacidade muito
pequena de tirá-los das gavetas. Para dar uma idéia da lentidão, o dirigente
da Sobratema lembra que o investimento em 2012 ficou abaixo de 2% do PIB
brasileiro, enquanto a expectativa apontava para 4%. “Está aí a safra
agrícola sem estrada para escoar. Chega a valer mais a pena ir do
centro-oeste para o Porto de Rio Grande do que para o sudeste, mesmo
percorrendo 1,5 mil quilômetros a mais”, aponta.
A queda na venda de equipamentos para a construção civil, que chegou a 13%,
até foi suave, segundo ele, pois o “marasmo” nas obras de infra-estrutura
alimentava prognósticos ainda mais pessimistas. O que atenuou o impacto foi a
expectativa sobre os benefícios e concessões feitos pelo governo federal para
reanimar a economia. “O problema é que já estamos em abril e os efeitos ainda
não foram sentidos”, lamenta Brian Nicholson, consultor da Sobratema.
Nicholson destaca que boa parte dos R$ 470 bilhões anunciados em concessões
federais em agosto de 2012 interessam à construção civil e ao setor de venda
de equipamentos. “Não há falta de projetos e, provavelmente, não haja falta
de recursos para os projetos viáveis”, aposta Nicholson.
O emperramento das obras é um grave complicador para o setor de equipamentos:
os empresários que adquiriram máquinas novas não estão operando com toda a
sua capacidade e, assim, não faturam o suficiente para honrar o investimento.
“Sem investir, temos menos obras. Sem as obras, o desenvolvimento do país
fica comprometido, o que leva a menos investimentos ainda no futuro”,
acredita Daniel. Ele acrescenta que apenas 48% das máquinas da chamada linha
amarela – especiais para movimentação de solo, como retroescavadeiras –
estão em atividade atualmente, quando o ideal seria 75%. Em 2010 a ocupação
esteve neste nível, mas já no ano seguinte caiu para 60% e em 2012 acabou em
56%.
Nicholson revela que a projeção feita em novembro do ano passado aponta para
um crescimento de 13% nas vendas de produtos da linha amarela. Mas faz
questão de salientar que, para isso se confirmar, diversos fatores precisam
contribuir. “O mais crítico é dar andamento aos investimentos. Se isso não
acontecer, nossa projeção vai para o espaço”, cogita.
Dualidade de responsabilidade
Rui Toniolo, diretor regional da Sobratema, expôs um diagnóstico pessoal
sobre o atraso nas obras no sul. Para ele, entraves de ordem ambiental ou
burocrática deveriam ser evitados com mais veemência pelos governos. Mas, em
contrapartida a esse respaldo, seria interessante que as empreiteiras
tivessem claramente expostas em contrato suas responsabilidades com a
qualidade das obras.
“Se a obra começa e precisa parar por algum motivo que não compete à empresa,
o governo precisa bancar isso [o custo de ficar parado]. Mas se a empresa
entrega uma obra sem durabilidade, deve estar previsto em contrato que as
correções devem ser feitas com custo zero para o Estado”, sugere.
Construction Expo
A comitiva da Sobratema aproveitou para divulgar no Sul a Contruction Expo
2013, que será realizada em São Paulo entre os dias 5 e 8 de junho. O evento
promoverá uma série de debates sobre o setor da construção civil e
apresentará seções temáticas, como um espaço dedicado a explicar os processos
de construção da Arena Corinthians, da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro e
do primeiro submarino nuclear brasileiro. “Até nós estamos curiosos para
saber que tipo de informações esse submarino vai trazer do mar”, brinca
Daniel.
A feira terá cerca de 300 expositores e espera receber 25 mil visitantes no
espaço de 50 mil metros quadrados do Centro de Exposições Imigrantes. A
dinâmica promete ser inovadora: enquanto uma parte da exposição tratará da
parte técnica das obras, o restante trará estandes com os fornecedores dos
empreendimentos. “O visitante poderá ver como será o estádio construído para
a Copa do Mundo e já conhecer o fabricante das cadeiras”, ilustra Daniel.
Veja, abaixo, as principais obras da região sul listadas no estudo da
Sobratema:
Em andamento
|
|
|
|
UF
|
R$ bi
|
Oito
unidades de produção tipo FPSO (casco) construídas no Porto de Rio Grande
|
RS
|
23,7
|
Refinaria
Alberto Pasqualini (REFAP) - Unidade de hidrotratamento de diesel, retirada
de enxofre
|
RS
|
1,6
|
Bacia
de Campos – duas plataformas FPSO
|
RS
|
1,1
|
Estaleiro
Pontal do Paraná – Duas plataformas fixas de petróleo para a Bacia de
Campos
|
PR
|
1,0
|
|
|
|
Em projeto
|
|
|
Fábrica
de papel e celulose da Klabin em Ortigueira, capacidade para produzir mais
de 1,5 milhão de toneladas de celulose/ano
|
PR
|
6,8
|
Usina
Hidrelétrica Binacional Garabi, 1.150 MW
|
RS
|
3,2
|
Metrô
de Porto Alegre Linha 2, 14,9 km
|
RS
|
2,5
|
Metrô
de Curitiba Linha Azul - 1ª Fase, 14,2 Km
|
PR
|
2,3
|
Ferroeste
- Ramal Cascavel/Guaíra
|
PR
|
1,6
|
Usina
Hidrelétrica Baixo Iguaçu, 350,2 MW
|
PR
|
1,6
|
Usina
Termelétrica Sul Catarinense (Usitesc), a carvão, 440MW
|
SC
|
1,6
|
Estaleiro
EBR, implantação
|
RS
|
1,2
|
Usina
Hidrelétrica São Jeronimo, Rio Tibagi, 331 MW
|
PR
|
1,2
|
Usina
Hidrelétrica Itapiranga, 725MW
|
SC/RS
|
2,0
|
Complexo
Eólico Verace, 10 parques, 258 MW
|
RS
|
1,0
|
Ramal
Ferroviário Guarapuava/Paranaguá
|
PR
|
1,0
|
Ferrovia
Litorânea Sul, 235 km, entre os portos de Imbituba, Itajaí e São Francisco
do Sul, incorporando a ferrovia Tereza Cristina
|
SC
|
0,9
|
Fonte: Estudo de Investimentos Sobratema, em parceria com
CriActive e e8 inteligência
|