Publicado em 27 de novembro de 2024
PorRedação Concrete Show Digital-27 de novembro, 2024
A indústria da mineração está em constante busca por inovações que aumentem a eficiência e a segurança das operações. Uma das tecnologias emergentes que vem ganhando destaque nesse setor é a utilização de caminhões autônomos.
Esses veículos, que operam sem a necessidade de um motorista humano, já estão começando a transformar a mineração ao reduzir custos, melhorar a precisão e, principalmente, aumentar a segurança nas minas.
Neste artigo, exploraremos como os caminhões autônomos estão revolucionando a mineração, os benefícios que trazem e os desafios que ainda precisam ser superados para a sua implementação em larga escala.
Para falar sobre o assunto, conversamos com Paulo Oscar Auler Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia (Sobratema). Boa leitura!
Neto inicia a entrevista explicando que os caminhões autônomos são utilizados em situações específicas, onde a operação normal não é possível.
“Nas altas temperaturas dentro das siderúrgicas, em operações de demolição e também em áreas de alto risco na construção civil, como no descomissionamento de barragens, deslizamentos de terras ou encostas instáveis”, exemplifica.
De forma experimental, os caminhões autônomos, segundo o entrevistado, estão sendo utilizados “fora de estrada de grande capacidade, no transporte de minérios ou estéreo, em rotas específicas de origem e destino”.
“Temos fora do Brasil algumas poucas operações autônomas em minas subterrâneas, onde as condições de trabalho são impróprias para o ser humano”, conta.
Na opinião de Auler Neto, os caminhões autônomos não são utilizados amplamente devido ao alto custo da implementação.
“[O valor] chega a ser equivalente ao custo do próprio equipamento, considerando a infraestrutura necessária de comunicação e os acessórios necessários nos equipamentos”, cita.
Ainda, é preciso considerar que, em uma operação autônoma, não existe a presença de um trabalhador no caminhão. Logo, toda a logística da operação deve ser montada de forma a funcionar sem a necessidade da intervenção do ser humano no local de trabalho.
“Em caso de quebra, deve-se ter um recurso também autônomo para resgatar o equipamento danificado até uma área segura”, lembra o entrevistado.
Neste sentido, segundo ele, os componentes instalados no caminhão têm redundância para dar toda a confiabilidade e segurança na operação e quebrarem o mínimo possível, a exemplo do que ocorre hoje nos aviões.
“Não se pode permitir atrasos na comunicação nem falhas de conexão no sinal de internet ou satélite sob o risco de graves acidentes”, acrescenta.
“Então, não podemos falar em ganhos de eficiência operacional, pois a operação autônoma, além de mais cara, hoje é cerca de 15% menos produtiva que a normal, porém é a única solução viável em situações de alto risco para o ser humano”, ressalta.
“Acredito que no futuro, não muito distante, poderemos ter operações totalmente autônomas nas obras e nas minerações de uma forma mais corriqueira, porém ainda temos um grande caminho a percorrer em termos de tecnologia e custos”.
Questionado sobre as tecnologias fundamentais para tornar os caminhões autônomos viáveis nos ambientes de mineração, Neto cita a necessidade única de uma rede de comunicação robusta e confiável.
“Pode ser via internet ou satélite, onde as respostas aos comandos das máquinas feitas a distância cheguem no equipamento sem nenhum atraso”, aponta.
Conforme Paulo Oscar Auler Neto, os desafios estão ligados basicamente à infraestrutura necessária para a operação.
“Necessitamos de redes de comunicação robustas, redundância nos componentes chaves dos equipamentos para que permaneçam em operação em caso de quebra e cabines de comando e gerenciamento que sejam fáceis de serem instaladas e movidas de um ponto a outro”, enumera.
A implantação, na opinião do convidado, requer um completo e detalhado planejamento e uma avaliação precisa de uma matriz de risco.
“Devem ser avaliadas todas as situações que possam ocorrer na operação, desde as mais prováveis até as quase impossíveis, e ter um plano de ação para cada situação”, opina.
Para Neto, se compararmos todos os custos envolvidos em um empreendimento, a utilização dos equipamentos autônomos se torna economicamente viável.
“Pelo seu maior custo em relação à operação normal, o usual é que ela esteja restrita à movimentação de materiais de uma área de risco a uma segura o mais próximo possível”, explica.
“Deste ponto em diante a movimentação dos materiais segue pelos métodos normais. Desta forma se usam poucos equipamentos autônomos”, complementa.
As tecnologias mais avançadas da atualidade, como a Internet das Coisas, a Inteligência Artificial e a análise de dados estão todas presentes na operação dos caminhões autônomos, em especial a última citada.
“Porém ainda temos um longo caminho a percorrer para nos dar segurança e afastar o ser humano totalmente das operações. Mesmo nas autônomas, necessitamos do operador à distância para intervir em situações de falha ou instabilidade do sistema”, lembra Neto.
“Estas tecnologias avançam de forma muito rápida e certamente em breve teremos novidades, que ainda nem imaginamos, que virão em benefício deste tipo de operação”.
Neto conta que não existe uma perspectiva de crescimento expressivo neste tipo de operação já que ela é mais cara que a normal e associada a uma situação específica e pontual de uma obra ou empreendimento.
“Obviamente, na medida que as operações autônomas aumentem, mesmo que em pequena escala, existe a tendência de redução dos custos de implantação, o que acaba sendo um incentivo para novos investimentos neste segmento”, ressalta.
Segundo o vice-presidente da Sobratema, até o momento não existe nenhuma legislação oficial específica para as operações autônomas no Brasil.
“As empresas que operam com estes equipamentos seguem as normas existentes para operação de equipamentos no setor da construção e mineração, e também as normas internas dos clientes, em especial nos quesitos de segurança e meio ambiente”, conclui Auler Neto.
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