Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 13 de março de 2014

Portal Petróleo e Energia - Infraestrutura: Investimentos devem crescer 3,5%

Perspectivas 2014 – Infraestrutura: Investimentos devem crescer 3,5% e participação privada promete se consolidar

Por Hamilton Almeida 

Em 2014, ano da Copa do Mundo de Futebol, o Brasil deverá tocar cerca de 2.248 obras de infraestrutura que, juntas, demandarão R$ 218,6 bilhões em investimentos. É o que revela uma pesquisa recente encomendada pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema).
 
A cifra representa um acréscimo da ordem de 3,5%, em valor, em relação ao que deve ter sido investido durante 2013. Ainda de acordo com a pesquisa, o total de obras em andamento no ano passado chegou a 2.804 e as aplicações somaram R$ 211,2 bilhões.
 
 
Daniel: nível de investimento ainda está aquém do necessário
 
“O nível de investimento em infraestrutura no país tem se mantido abaixo do necessário nos últimos anos”, adverte o vice-presidente da Sobratema e principal executivo da Escad Rental, Eurimilson João Daniel. “Em 2013 não foi diferente. Ele ficou muito abaixo das expectativas dos empresários do setor e acabou causando problemas para algumas empresas que apostaram em um desempenho melhor”, acrescenta.
 
Segundo Daniel, o ritmo dos investimentos, além de baixo, também não foi o ideal. “O consolo é que o desempenho de 2013 sinaliza que pior do que isso não pode ficar e, portanto, o melhor está por vir”, observa. Movido por essa esperança, o representante da Sobratema defende uma avaliação favorável em relação aos investimentos em infraestrutura para 2014. “Não se nota uma sensação de desânimo entre as empresas do nosso segmento. Isso se deve mais a uma percepção disseminada na opinião pública, segundo a qual a palavra infraestrutura e, principalmente, a necessidade de investimentos nessa área viraram moda”, conjectura. Daniel acha que “começa a se firmar na sociedade, incluindo os governos, o conceito de que para o país avançar em termos de desenvolvimento social, de crescimento econômico e até para a atração de mais investimentos externos é imprescindível investir com mais intensidade e mais rapidamente em infraestrutura”.
 
Daniel chama a atenção também para o fato de que até nas manifestações públicas do governo federal “já fica clara a necessidade de se discutir o cumprimento de cronogramas de execução das obras e não mais o questionamento sobre a sua necessidade”. Nesse sentido, raciocina, o viés é positivo.
 
“Tudo indica que o governo deve abandonar aquela postura contrária à participação da iniciativa privada nos investimentos de infraestrutura e começa a se conscientizar de que a privatização é um instrumento importante. Prova disso é a constatação de que, conforme prometido, os leilões estão acontecendo. Tivemos os leilões dos aeroportos do Galeão e de Confins e o da BR-163, no Mato Grosso. Há ainda notícias sobre a manutenção de parte dos investimentos da Petrobras.”
 
A Sobratema acompanha de perto o que acontece na área de infraestrutura no país desde 2009. A 4ª edição da pesquisa “Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil até 2018, encomendada pela Sobratema às empresas Criactive e e8 Inteligência, aponta investimentos da ordem de R$ 1,19 trilhão em obras até 2018.
 
 
O levantamento contabiliza 8.300 obras em andamento, em projeto ou intenção, em oito setores da economia: óleo e gás, transporte, energia, saneamento, indústria, infraestrutura de habitação, infraestrutura esportiva e outros (hotéis, shopping centers etc.).
 
Esse conjunto de obras também pode ser visto de outra maneira: calcula-se que há R$ 497,2 bilhões sendo investidos em 4.614 obras em andamento. E há intenção de investir R$ 697,3 bilhões em outras 3.686 obras. Deste total, 604 obras (R$ 444,6 bilhões) possuem data de início e 3.082 obras (R$ 252,7 bilhões) ainda estão no papel, sem previsão para começar.
 
As maiores fatias de investimentos no período 2013-2018 estão reservadas para os setores de transporte (R$ 369,6 bilhões (31% do total) e óleo e gás (R$ 346,6 bilhões (29,1% do conjunto).
 
Um resumo das principais obras por setor:
• Óleo e gás
– Desenvolvimento da produção na Bacia de Santos. Execução de projetos integrados de produção e escoamento de petróleo e gás natural. Iniciado em janeiro de 2007, tem previsão de conclusão em janeiro de 2020, a um custo total de R$ 277.396.560.000,00. O prazo de conclusão foi reajustado em três anos.
– UN-ES – Desenvolvimento da produção no Espírito Santo. Projetos para exploração e produção de petróleo e gás natural. Obra iniciada em 2007 com término previsto para 30 de junho de 2014. Custo total: R$ 51.393.450.000,00. O prazo foi estendido em seis meses, em relação à pesquisa do ano anterior, e o valor também foi alterado (cerca de R$ 43,9 bilhões pela última estimativa).
– Refinaria Premium (1ª e 2ª Fases). Construção de refinaria em uma área de 20 km², no Maranhão. A previsão de início foi postergada de janeiro de 2013 para julho de 2016. O término está previsto para o final de 2019. Obra orçada em R$ 40.200.000.000,00.
 
• Transportes
– Trem de Alta Velocidade – Trecho Campinas/São Paulo/Rio de Janeiro. O início da construção do trecho de 520 km está previsto para agosto de 2014. A conclusão da ferrovia está marcada para dezembro de 2019. Custo estimado: R$ 34.600.000.000,00.
– Superporto no Espírito Santo. Construção de um novo porto de águas profundas no litoral capixaba. Início previsto: novembro/2013. Conclusão: dezembro/2015. Custo estimado: R$ 20,67 bilhões.
– Ferrovia Minas-Bahia. Ligará Belo Horizonte (MG) a Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (BA). O início da obra está previsto para janeiro de 2015. Conclusão: setembro de 2018. Custo estimado: R$ 10,6 bilhões.
– Ferronorte – Ferrovia Cuiabá/Santarém. Implantação da ferrovia ligando os estados de Mato Grosso e Pará para escoar entre 15 e 20 milhões de toneladas de grãos. Ainda sem previsão de início e término. O custo está orçado em R$ 10 bilhões.
 
• Energia
– Usina hidrelétrica de Belo Monte. Será a terceira maior do mundo. Em construção no rio Xingu, no estado do Pará, desde março de 2011. A capacidade instalada será de 11.233 MW. A conclusão está prevista para janeiro de 2019. Custo estimado: R$ 29 bilhões.
– Usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós. Vai gerar 7.800 MW, também no Pará. O início está previsto para março de 2015. Conclusão: fevereiro de 2021. Valor estimado: R$ 18.159.930.000,00.
– Usina hidrelétrica Santo Antônio. No rio Madeira, em Rondônia, terá potência instalada de 3.150,4 MW. Orçada em R$ 16 bilhões, está em construção desde fevereiro de 2011 e tem conclusão prevista para maio de 2015.
– Usina hidrelétrica Jirau. Em construção desde 2009, no rio Madeira, também em Rondônia, com capacidade instalada de 3.300 MW. A conclusão está prevista para junho de 2015, com um custo estimado de R$ 13,14 bilhões.
 
• Indústria
– Carajás Serra Sul – Mina S11D. Desenvolvimento de mina e usina de processamento, na serra sul de Carajás, no Pará. Obra iniciada em agosto de 2012 e com conclusão prevista para setembro de 2016. Custo: R$ 17.128.697.300,00.
– Siderúrgica Wisco. Instalação de usina no Complexo Logístico e Portuário do Açu, no Rio de Janeiro. Obra ainda em projeto, sem datas de início e término. Custo estimado: R$ 10 bilhões.
– Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU). Construção de usina com capacidade de produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço anuais, no Espírito Santo. Início projetado para janeiro de 2015 e conclusão para setembro de 2016. Custo estimado: R$ 9.858 milhões.
– Complexo Industrial do Superporto do Açu – siderúrgica e pelotizadora Ternium. Usina de placas de aço a ser instalada na retroárea industrial do superporto do Açu, no Rio de Janeiro. Não há previsão para início e término. A obra está avaliada em R$ 8 bilhões.
– Planta de Beneficiamento de Minério – Anglo American. Abertura da mina, em Minas Gerais, que será responsável pelo processamento do minério antes de ele ser transportado até o superporto do Açu. Em obras desde o final de 2011, com conclusão prevista para dezembro de 2014. Custo estimado: R$ 8 bilhões.
– Mineroduto Minas-Rio. Obra com 525 km de extensão, que ligará a unidade de beneficiamento de minério da Anglo American ao porto de Açu. Em construção desde 2009 e com conclusão prevista para junho de 2014. Custo: R$ 6 bilhões.
 
• Saneamento
– Cinturão das Águas no Ceará (CAC) – Trechos II/III/IV/V e VI. Não há previsão para início e término de construção das adutoras. Custo estimado: R$ 5,5 bilhões.
– Programa Água da Gente em Minas Gerais. Obras de melhoria e ampliação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, incluindo o tratamento do esgoto. Com um custo estimado em R$ 4,5 bilhões, está em execução desde setembro de 2012. Conclusão prevista: dezembro de 2016.
– Obras de saneamento na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. A ETE tem previsão de início de construção para abril de 2014. A conclusão deverá acontecer em dezembro de 2016 a um custo total de R$ 3 bilhões.
– Programa permanente de redução de perdas de água em São Paulo. A redução dos vazamentos de águas nas redes de distribuição está em execução desde janeiro de 2009. Conclusão prevista para janeiro de 2016 a um custo total de R$ 3 bilhões.
– Programa Vida Nova em São Paulo – Recuperação de mananciais. Objetivo: melhoria e preservação dos reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo e recuperação de mananciais. Em obras desde dezembro de 2010. Conclusão projetada para dezembro de 2015 a um custo total de R$ 3,7 bilhões.
 
• Habitação
– Cidade da Copa – Recife. Às margens da BR-408, um terreno de 240 hectares irá abrigar 7 mil residências, um campus universitário, museu, teatro, um ginásio (arena indoor), hotéis, centro de convenções, shopping center e escritórios comerciais. Com início previsto para janeiro de 2014, as obras estão orçadas em R$ 2 bilhões e deverão ser concluídas em dezembro de 2025.
– Vila Olímpica e Paraolímpica da Barra. A construção, no Rio de Janeiro, começou em fevereiro de 2011 e deverá estar concluída em janeiro de 2015 a um custo estimado de R$ 854 milhões.
 
• Esportes
– Arena Corinthians. Construção do estádio na cidade de São Paulo, que sediará o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014, além de outras cinco partidas. A conclusão das obras, em execução desde meados de 2011, está prevista para abril de 2014. Custo estimado: R$ 820 milhões.
– Arena Pantanal. Iniciadas em 2010, as obras em Cuiabá estão previstas para serem concluídas no início de 2014. Custo estimado: R$ 520 milhões. Vai receber quatro jogos da Copa do Mundo.
– Arena da Baixada. Obras de reforma e ampliação, em Curitiba, iniciadas em outubro de 2011, devem ser concluídas em fevereiro de 2014. Custo: R$ 265 milhões. Vai receber quatro jogos da Copa do Mundo.
– Arena das Dunas. As obras, em Natal, foram iniciadas em junho de 2011 e a conclusão está prevista para o início de 2014. Custo estimado: R$ 350 milhões. Será palco de quatro jogos da Copa do Mundo.
– Arena Beira-Rio. Orçadas em R$ 330 milhões, as obras de modernização foram reiniciadas em março de 2012 e deverão estar prontas no início de 2014. Porto Alegre vai receber cinco jogos da Copa do Mundo.
– Arena Multiuso da Amazônia. As obras de remodelação do estádio Vivaldo Lima, em Manaus, começaram em julho de 2010 e devem terminar no início de 2014. Custo estimado: R$ 605 milhões. Vai ser palco de quatro jogos da primeira fase da Copa do Mundo.
– Parque Olímpico do Rio – Autódromo de Jacarepaguá. Implantação para receber 15 modalidades esportivas. Iniciadas em julho de 2012, as obras deverão ser concluídas em agosto de 2015 a um custo estimado de R$ 590 milhões.
 
• Outros
– Cidade turística Nova Atlântida. Implantação em duas fases, na praia da Baleia, a 200 km de Fortaleza, no Ceará, em uma área de 3,1 mil hectares. Início previsto para 2014. Serão 13 hotéis cinco estrelas, 14 resorts, seis condomínios residenciais e três campos de golfe. Conclusão: setembro de 2015. Custo estimado: R$ 27,7 bilhões.
– Fazenda São Bento da Lagoa. Complexo turístico, esportivo, comercial, empresarial e residencial que prevê quatro hotéis, shopping, campo de golfe, escola, hospital, condomínios, centro hípico e centro de pesquisas em Maricá, no estado do Rio de Janeiro. Início previsto para janeiro de 2014 e conclusão para setembro de 2015. Custo estimado: R$ 8 bilhões.
 
 
Crispino: se 2014 for igual ao ano passado já está bom
 
Abimei – O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), Ennio Crispino, quer esquecer o ano de 2013. “Foi um ano difícil. Não há motivos para comemorar”, declara. Pelo segundo ano consecutivo, o desempenho setorial ficou abaixo do esperado:
 
“Houve uma queda média de 10% a 20% no volume de negócios. Em alguns casos, a diminuição das vendas foi superior a 50%”, adiciona. Em 2011, o setor movimentou negócios da ordem de US$ 2,4 bilhões. No ano seguinte, a cifra caiu para US$ 2,2 bilhões. E, em 2013, despencou mais 20%, para US$ 1,7 bilhão.
 
A maior decepção do mercado, nas palavras de Crispino, ficou por conta do segmento de petróleo e gás. “Os resultados foram pífios, desestimulantes, e não há perspectivas de melhora a curto prazo. A Petrobras interrompeu literalmente os investimentos, comprometendo o desempenho de toda a cadeia de fornecedores de máquinas e componentes. E o pré-sal continua sendo uma incógnita. Muitos fornecedores só não fecharam as portas ainda porque têm projetos de longo prazo”, desabafa.
 
Em outras palavras, Crispino diz que “o fechamento de torneira da Petrobras significa contratos não cumpridos”. Na sua avaliação, a estagnação reinante no setor petroleiro é resultado de má gestão e da interferência política na Petrobras.
 
O presidente da Abimei classifica 2014 como “um ano de calendário atípico”. Com Carnaval em março, Copa do Mundo, eleições presidenciais e feriadões, haverá muito menos dias úteis. “Se 2014 for pelo menos igual a 2013 já será bom. O receio é de nova queda nos negócios”, afirma.
 
Crispino acredita que o setor industrial só será fortalecido quando o governo federal criar condições para um ambiente favorável ao crescimento do país, o que passa, necessariamente, por maiores investimentos em infraestrutura, reforma tributária, manutenção dos juros básicos abaixo de dois dígitos, controle da inflação e câmbio estável. “Ou seja, tudo aquilo que não tivemos em 2013.”
 
O economista da Abimei, Otto Nogami, calcula que o país precisa investir de R$ 500 bilhões a R$ 600 bilhões por ano apenas em infraestrutura “para recuperar o que não foi feito até agora”. Para ele, o cenário econômico não é alentador. A tendência é de retração nos investimentos, maior pressão inflacionária, taxa de juros de dois dígitos (“12% não será assustadora”) e menor consumo das famílias.
 
A tendência para o setor industrial em 2014 é de queda, após uma leve alta nos negócios no último trimestre de 2013, segundo Nogami. “A economia brasileira precisa de mais investimentos para combater a inflação. Mas muitas empresas estão adiando os investimentos”, arremata.
 
 
Godoy: ideologia ainda atrapalha obras em saneamento básico
 
Abdib – Mesmo sem ter ainda um número para exibir sobre os investimentos em infraestrutura em 2014, Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), tem a convicção de que, a longo prazo, a tendência é de crescimento.
 
“Com os governos dando mais foco na necessidade de investir em infraestrutura, temos observado, nos últimos dez anos, uma curva crescente de investimento a médio e longo prazos. Acredito que o investimento na infraestrutura vai continuar crescente”, afirma.
 
“Temos trabalhado para viabilizar os projetos de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias inseridos nos últimos programas de concessão lançados pelo governo federal. Temos apoiado os planos dos estados, nas áreas de transporte e mobilidade urbana. Insistimos na necessidade de ampliar a participação privada na expansão da infraestrutura de saneamento básico no Brasil, mas ainda há muita ideologia política impedindo essa diretriz”, relata Godoy.
 
O empresário acredita, no entanto, que “é possível acelerar os atuais níveis de investimento em infraestrutura. Para isso, precisamos que as instituições e os governos tenham mais disposição política e eficiência administrativa, mesmo com todas as limitações que conhecemos, criadas pela burocracia e pela visão distorcida de alguns órgãos ou setores da administração pública”.
 
De acordo com Godoy, em 2012, o Brasil investiu algo em torno de 2,5% do PIB em infraestrutura, considerando os setores de saneamento básico, transportes, energia elétrica e telecomunicações. “Se incluirmos petróleo e gás natural, investimos 4,5% do PIB em 2012. Temos de trabalhar para atingir 4%, sem considerar petróleo e gás, até 2016”, salienta.
 
O presidente da Abdib declara que “isso seria fundamental para a economia crescer com sustentabilidade, inclusão e desenvolvimento social”. Por isso, os programas de concessão nos setores de infraestrutura são tão importantes. “Esses programas começaram a deslanchar no setor de transportes e, quando esses projetos forem transformados em canteiros de obras, vão impactar positivamente no resultado anual de investimentos em infraestrutura.”