Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 01 de agosto de 2014

Valor Econômico - Balança de bens de capital aponta recuo geral do investimento

Balança de bens de capital aponta recuo geral do investimento

Por Rodrigo Pedroso e Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo

A balança comercial brasileira de bens de capital do primeiro semestre traz a sinalização de que uma queda da taxa de investimentos da economia brasileira - como prevista por vários economistas neste ano - poderá estar relacionada não só com a crise do setor industrial, mas também com o esfriamento de investimentos em outros setores importantes, como agricultura e infraestrutura.

Em uma análise sobre os subsetores que compõem toda a balança de bens de capital do país, é possível observar recuos importantes na importação não só de máquinas usadas no processo industrial, mas também em máquinas rodoviárias e tratores, que atendem infraestrutura, agricultura e mineração. Isso indica, segundo economistas, que o recuo do investimento, embora liderado pela indústria, está se configurando como um processo mais generalizado.

"É o colapso do investimento no Brasil", afirma o professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário de política econômica Julio Gomes de Almeida. "Quem mais está colocando o pé no freio é a própria indústria, que, contraditoriamente, é quem mais precisa investir. Tudo que não podia acontecer agora é a própria indústria investir menos", diz.

Os dados da Funcex apontam queda nas importações no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado em 11 das 15 subcategorias de bens de capital mapeadas pelo levantamento feito a pedido do Valor. Quando analisados os setores que compraram menos do exterior, se destacam o segmento de máquinas e equipamentos de uso industrial e o de máquinas e equipamentos de uso geral. O primeiro teve queda de 15,2% nos desembarques, enquanto o segundo registrou retração de 6,6%.

Os segmentos de máquinas e equipamentos de uso industrial e o de material elétrico foram responsáveis por dois terços do recuo de 9,1% no total dos desembarques de bens de capital.

Em categorias voltadas para infraestrutura e agricultura, também houve recuos importantes: queda de 48,1% na importação de máquinas rodoviárias e de 13,3% na importação de tratores.

"A queda do investimento pode ter sido liderada pelo setor industrial, mas foi generalizada. Veio na parte rodoviária, veio em tratores, portanto em uma demanda do setor agrícola. E veio em caminhões e ônibus, que é um tipo de investimento de formação de frota", diz Almeida.

Segundo ele, poucos subsetores dentro de bens de capital não mostraram queda de importações no semestre, como é o caso de aparelhos transmissores, receptores e componentes (alta de 10,6%), embarcações, locomotivas e vagões ferroviários (61,1%) e ferramentas e acessórios para máquinas e equipamentos (6,7%). Mas a participação desses itens na balança de bens de capital importados pelo país é muito pequena, não chegando a 10%.

Reduzir as importações de bens de capital de maneira geral poderia ser uma notícia boa, se esses equipamentos e máquinas estivessem sendo substituídos por produção nacional similar, mas não é o que mostram os dados da produção industrial até agora, que indicam recuo da produção brasileira desse tipo de bem.

"Temos toda uma discussão sobre a necessidade de aumento da produtividade da indústria brasileira, então isso não é um bom sinal", concorda Lia Valls, economista do Ibre-FGV. "Quase tudo cai. Só não cai a importação em setores muito específicos, como, por exemplo, em aparelhos transmissores, no qual não somos competitivos e usamos muito isso em celular", diz.

Bens de capital é um setor-chave da economia, já que sinaliza não só como vai o próprio segmento, mas também porque mostra a disposição dos demais setores da economia que dele dependem, sendo uma sinalização do futuro próximo, já que compra de máquinas envolve planejamento por parte das empresasm tanto em relação a uma possível ampliação de produção quanto à modernização das atividades.

"Os dados mostram que há uma situação ruim no momento e apontam que a previsão dos investidores é que isso vai permanecer [ruim] nos próximos meses", diz Klaus Curt Müller, diretor de mercado externo da Abimaq, entidade que representa os fabricantes de máquinas.

"Não se investe, porque não se tem onde utilizar esse bem produtivo, e o empresário tem um parque lotado de equipamentos parados", diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), que reúne construtores, locadores, revendedores e fabricantes da linha amarela (motoniveladoras, carregadeiras, tratores etc.), Mario Humberto Marques.

Para Marques, existe uma dificuldade das empresas de construção e de locação de investir porque muitos dos projetos públicos voltados à infraestrutura não saíram do papel. "Os contratos estão paralisados por razões diferentes, desde falta de recursos, problemas ambientais, problemas no Tribunal de Contas da União. O volume de atividades no setor de construção de infraestrutura está patinando".

Curt, da Abimaq, diz que a perspectiva para os próximos meses é que a importação permaneça em ritmo de queda, ou estável, porque o período eleitoral deve ser um momento de espera pelos empresários para traçar cenários e programar investimentos no parque produtivo.

"A gente sabe que recuperar o investimento no caso brasileiro não é uma coisa de curtíssimo prazo. Só recupera com um plano de investimentos que puxe o crescimento da economia, tem que ter cenário também de demanda crescente para que haja projeções mais positivas, para que comece a recuperar. Em ano de eleição, é meio complicado", afirma Lia.