Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 14 de novembro de 2014

DCI - Setor de máquinas tem férias coletivas e prevê demissões

Setor de máquinas tem férias coletivas e prevê demissões
 
indústria brasileira Pela primeira vez desde 2008 o mercado de equipamentos para construção deve registrar queda de 6% no ano; fabricantes tomam medidas para adequar a produção
 
Juliana Estigarríbia
 
Foto: Divulgação
A Case Construction, uma das marcas mais antigas do País, está ajustando a sua produção na planta de Contagem (MG) para esperar a retomada do mercado em 2015

São Paulo - Pela primeira vez desde 2008, o mercado de máquinas para construção deve registrar queda de 6% em 2014. Os maiores players instalados no País estão adequando a sua produção e alguns já adotam medidas como férias coletivas.
 
"O crescimento que o setor esperava não veio. Todas as marcas botaram o pé no freio", afirmou ao DCI o vice-presidente da Case Construction (grupo CNH Industrial), Roque Reis.
 
Com férias coletivas normalmente no último mês do ano, a empresa decretou paradas em novembro e dezembro na unidade fabril de Contagem (MG).
 
"Muitos dos nossos concorrentes já pararam. A ideia é adequar a produção para começar o ano com os estoques ajustados", explica Reis.
 
O executivo afirma que a produção de Contagem (que abriga os selos Case e New Holland) foi de aproximadamente 8 mil máquinas em 2013. Neste ano, uma venda expressiva de 3,5 mil máquinas para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) contribuiu para manter os níveis de produção da Case até meados de agosto.
 
Porém, excluindo o volume vendido ao MDA, a empresa espera uma queda de cerca de 10% das vendas para 2014.
 
"Estávamos em uma trajetória de crescimento desde 2006 e o setor projetava um mercado de 40 mil máquinas de linha amarela para 2014/2015. Mas não devemos passar de 25 mil unidades este ano", estima Reis.
 
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, o Brasil está investindo cada vez menos. "Até o momento, as vendas no mercado interno caíram aproximadamente 30%", calcula.
 
A indústria de máquinas e equipamentos é considerada um termômetro para o nível de investimentos de um país. "Com o clima de incertezas que ainda persiste no Brasil, os empresários acabam desistindo de investir em seus negócios", pondera.
 
Ainda de acordo com Pastoriza, atualmente a indústria de bens de capital mecânicos já opera a uma média de 75% da capacidade instalada, o que ele considera muito baixa.
 
"Um nível de ociosidade de 25% é brutal para os empresários, pois os custos fixos crescem e isso rouba a competitividade do setor", afirma o presidente da Abimaq.
 
Se o quadro se mantiver como hoje, Pastoriza acredita que, no início de 2015, o setor comece a demitir, principalmente porque o segmento de máquinas sob encomenda está com uma carteira de pedidos irrisória.
 
"A média, hoje, é de cerca de quatro meses, quando o normal é de pelo menos um ano", pontua.
 
Construção em queda
 
Segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), a retração de 6% projetada para 2014 se deve principalmente à "desaceleração da economia, políticas públicas dos investimentos em infraestrutura e ao período eleitoral", conforme nota divulgada pela entidade ontem.
 
O estudo Sobratema contempla equipamentos da chamada "linha amarela", que neste ano deve apresentar um recuo ainda maior do que a média do setor, de 12,7%.
 
Uma das máquinas mais vendidas no Brasil, a retroescavadeira, deverá experimentar uma queda ainda maior em 2014, de 42,6%.
 
"A desaceleração da demanda em infraestrutura afetou bastante o mercado", ressalta o vice-presidente da Case. O executivo afirma ainda que o momento é peculiar. "Estamos ainda em um período letárgico, todos estão esperando os rumos da economia. Só deve investir agora quem realmente necessitar", pondera Reis.
 
Perspectivas
 
O presidente da Abimaq afirma que a retomada do mercado de máquinas precisa começar desde já. "Os empresários necessitam de segurança para investir. Eles querem uma sinalização de que haverá reformas na economia", explica Pastoriza.
 
Ele destaca ainda que, se as mudanças não começarem já, em breve o setor terá que dispensar funcionários. "A carteira de pedidos está muito baixa e as demissões serão inevitáveis", diz o presidente da Abimaq.
 
De acordo com o estudo Sobratema, a estimativa é de que o setor tenha uma retomada só a partir de 2016, "dependendo principalmente dos investimentos em novas obras de infraestrutura, bem como o crescimento da construção civil".
 
Já o vice-presidente da Case acredita que 2015 será um ano de estabilidade para o mercado de máquinas de construção. "Se houver retomada no ano que vem, só deve começar a acontecer no segundo semestre", diz.
 
E para atingir as metas da empresa, a estratégia da marca será reforçar o pós-vendas, principalmente em um mercado acirrado como o de linha amarela.
 
"O grande diferencial de uma empresa do setor é a qualidade e a velocidade do atendimento no pós-vendas e nem todas as marcas que operam no País podem oferecer isso", diz.
 
Hoje, as máquinas de construção podem ser até mais confortáveis do que um carro, devido à tecnologia embarcada.
 
"A maioria possui ar-condicionado, suspensão e proporciona controles suaves e precisos ao operador", explica Reis. "Estamos trazendo tecnologias que certamente contribuirão para nossa competitividade, como o joystick para retroescavadeira", acrescenta.