Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 08 de abril de 2015

Portal dos Equipamentos - Despreparo de riggers é realidade no Brasil

Despreparo de riggers é realidade no Brasil
 
Além de falta de treinamento, há ainda a dificuldade para interpretar manuais
 
Redação PE
 
 
Segundo dados da Previdência Social, 61.889 trabalhadores se acidentaram na construção civil em 2013, com 451 mortes. Os óbitos relacionados à operação de equipamentos pesados, embora sejam casos isolados, ocorreram devido à imperícia, falta de planejamento, de supervisão, qualificação, entre outras falhas humanas.
 
Com o trabalho envolvendo guindastes há um agravante particular. De acordo com Wilson de Mello Jr, diretor de formação e certificação da Sobratema – Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração, o profissional rigger, responsável por todo o planejamento necessário às operações, está cada vez mais escasso no país. Para ele, essa posição está cada vez menos qualificada e requer um treinamento mais cuidadoso, já que um simples descuido pode provocar uma catástrofe num canteiro de obras.
 
O diretor da Cunzolo, Marcos Cunzolo, corrobora com essa opinião. “A operação com guindastes é essencialmente complexa. Ela exige preparo e muito treinamento e competência da empresa prestadora de serviço. Com a expansão industrial, há necessidade de mobilização de grandes máquinas e peças industriais. As obras de engenharia civil e construção pesada exigem também operações rápidas e seguras de içamento e movimentação de carga”, diz.
 
Hoje, os guindastes contam com tecnologia moderna e recursos eletrônicos que, embora garantam maior precisão e produtividade, devem ser bem assimilados nas operações. Isso torna necessário o bom preparo do rigger.
 
HABILIDADE E PLANEJAMENTO
O bom profissional de rigging deve saber ler e interpretar muito bem as plantas e desenhos técnicos, conhecimento e habilidade em cálculos numéricos, matemática, geometria, trigonometria, física e resistência dos materiais. “Além disso, requer expertise em softwares, autocads, características dos guindastes existentes e facilidade na leitura dos manuais técnicos que muitas vezes estão em inglês e no sistema britânico de medidas”, informa Wilson, da Sobratema.
 
Ele explica também que o plano de rigging deve conter todas as informações básicas e parâmetros de segurança estabelecidos por normas e pelo fabricante do guindaste envolvido, desde o transporte até o posicionamento final. “Precisa constar a área necessária para o posicionamento da peça, para montagem e operação do guindaste. É preciso considerar o local, os acessos e as interferências, cálculos, dimensionamentos e listas de materiais de todos os elementos aplicados para ligação entre o guindaste e a peça”.
 
Marcos Cunzolo acrescenta que é imprescindível a conscientização dos contratantes quanto ao fornecimento de informações precisas referentes à operação e às peças que serão movimentadas (peso exato, distribuição do peso/ponto de equilíbrio, dimensões e pontos de içamento). “Um estudo prévio deve informar as condições gerais do terreno onde os equipamentos irão operar, tais como a existência de pontos de interferência, postes e fiação de energia elétrica, galerias/tubulação subterrâneas, compactação do solo, declividade ou aclividade, velocidade dos ventos da região”, diz.
 
DIFICULDADE EM INTERPRETAR MANUAIS DE OPERAÇÃO
O despreparo dos riggers é percebido também em todo o setor. O supervisor de serviços da área de guindastes da Terex, Alexandre Vaccari, diz que há muitos profissionais sem uma formação adequada tanto no planejamento como na execução das operações. “Muitos sequer leem com a devida atenção ou nem entendem os manuais de operação”, diz.
 
Para ele, há operadores veteranos que ainda não estão familiarizados com a evolução eletrônica dos equipamentos, embora acredite que hoje a tecnologia está mais assimilável e de interface mais simples para o operador.
 
Há também muitos guindastes no país que não estão em conformidade com a NR12, principalmente os equipamentos mais antigos adquiridos antes de 2010. “Por exemplo, os guindastes precisam ter um número de série e um registro de capacidade de carga deve estar visualmente em alguma parte do equipamento. Deve haver também uma documentação oficial escrita em português brasileiro que exponha as tabelas de carga, as instruções de bloqueio e os esquemas elétricos e hidráulicos, entre outras exigências”, conta Vaccari.
 
A SAÍDA PARA REDUZIR ACIDENTES
Para Wilson de Mello Jr, da Sobratema, a exigência por certificação para atuação profissional está se tornando habitual entre as grandes corporações e naturalmente será uma prática comum do mercado. A Sobratema desenvolveu uma parceria com a Abendi – Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção, para a certificação de profissionais que trabalham com equipamentos.
 
“Já se percebe mais envolvimento dos profissionais do setor, em decorrência da exigência dessas grandes corporações e dos benefícios que a certificação traz para as empresas e pessoas”, conta Mello Jr. Até o final de fevereiro, cerca de 60 profissionais estavam em processo de certificação ou certificados para as funções de rigger, supervisor de rigging e sinaleiro amarrador.
 
A partir de março, foi disponibilizada a certificação para operadores de grua, de guindaste móvel, de guindauto e de ponte rolante e pórtico. “Vamos abrir, ainda nesse semestre, a certificação para os equipamentos de linha amarela, e está em estudo a o curso de formação para operadores de guindastes offshore”, adianta Mello Jr.
 
TREINAMENTO IN COMPANY 
Na Cunzolo, antes de iniciar uma operação, os técnicos de segurança da empresa contratada e a contratante vão até o local avaliar o terreno, identificar riscos e aplicar todas as medidas de segurança. “Ou seja, é avaliado tudo que possa afetar a estabilidade e operação do equipamento, entre outros fatores que possam provocar algum acidente”, explica Marcos Cunzolo.

A Terex disponibiliza aos clientes uma ferramenta online gratuita no site www.terexcranes-liftplan.com, em que basta um cadastro com as especificações da operação. O frotista receberá informações detalhadas sobre os tipos de guindastes que pode utilizar conforme o melhor custo benefício. “Essa ferramenta não contém todos os elementos de um planejamento de rigging, mas a partir de informações como altura, raio final, peso, pressão da patola, entre outros itens, o rigger terá bons subsídios para montar seu plano”, informa Alexandre Vaccari.