Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 03 de março de 2015

DCI - Demissões já atingem fábricas de máquinas para construção

DCI - Em Destaque - Pág. 03 
 
Demissões já atingem fábricas de máquinas para construção
indústria. Diante do cenário de arrefecimento das vendas, grandes fabricantes iniciaram um processo de redução do quadro de funcionários para adequação à baixa demanda do mercado
Juliana Estigarríbia
 
Somente as vendas de guindastes caíram cerca de 46% no ano passado, segundo dados da Sobratema
Foto: Dreamstime

São Paulo - A indústria de máquinas para construção sofre com a queda sistemática das vendas no País. Há apenas alguns anos, diversas empresas apostaram altas cifras no mercado local e, hoje, o movimento de demissões se espalha até entre as marcas mais tradicionais.
 
Em meados de 2011, com o boom imobiliário e a expectativa de fortes investimentos em infraestrutura, os fabricantes locais investiram em aumento de capacidade e novas marcas chegaram ao Brasil para embarcar no bom momento vivido pelo segmento. Mas com o arrefecimento do mercado imobiliário nos dois anos seguintes e a estagnação do ritmo das obras públicas de infraestrutura, as vendas de máquinas para construção começaram a cair e a ociosidade aumentou muito, dizem fontes do setor.
 
O ápice da crise deste mercado ocorreu no ano passado, diante da piora do cenário econômico no País. De acordo com fontes, os fabricantes não conseguiram mais segurar os efeitos da crise.
 
Na primeira semana de janeiro deste ano, as tradicionais marcas do grupo CNH Industrial, Case e New Holland, demitiram 270 funcionários em sua planta de Contagem (MG). A empresa não confirma o número total de empregados.
Em 2011, a expectativa das duas marcas era de um crescimento mínimo de 10% ao ano, mesmo diante da chegada de novas marcas ao País.
A gigante e líder global Caterpillar também está se adequando ao mercado. Na semana passada, a empresa teria dispensado 124 funcionários, número estimado pelo sindicato de Piracicaba (SP).
 
Em comunicado à imprensa, a empresa informou que "negociou com o sindicato dos metalúrgicos de Piracicaba medidas para ajustar seu volume de produção à demanda atual".
 
O presidente do sindicato local, José Florêncio (o Bahia), diz que a companhia procurou a entidade afirmando que existiam cerca de 500 funcionários ociosos na unidade produtiva.
 
De acordo com o sindicalista, um acordo entre as partes foi fechado e os empregados só poderiam ser demitidos se a Caterpillar oferecesse um pacote incluindo dois salários nominais, convênio médico por seis meses e um vale-compras no valor de R$ 1 mil.
 
A fabricante norte-americana não confirma o número de pessoas demitidas, mas o sindicato acredita que possa subir para até 350. "O cenário só deve mudar se novos produtos chegarem à unidade em meados de junho", acredita Bahia.
Na opinião do sindicalista, as possíveis demissões podem ser revertidas caso a unidade de Piracicaba da Caterpillar incorpore novos produtos às linhas de produção, o que poderia garantir empregos na planta.
 
Enquanto isso, a expectativa é que nos próximos três meses a empresa ainda procure o sindicato para realizar novas negociações, como, por exemplo, uma suspensão temporária do contrato de trabalho (lay-off).
 
A medida, porém, teria sido descartada pela Caterpillar neste momento. A empresa informou ainda que "trabalha no sentido de buscar novos mercados de exportação e outras medidas para preservar ao máximo a força de trabalho e trazer o menor impacto social para a cidade".
 
A Volvo Construction Equipment, braço de máquinas para construção do grupo sueco, anunciou no último mês de dezembro o encerramento de duas linhas de produção em sua planta de Pederneiras (SP).
 
No local, eram fabricadas motoniveladoras e retroescavadeiras. Conforme comunicado da Volvo, os produtos "não estavam apresentando a rentabilidade necessária preconizada pela empresa". As linhas deverão ser fechadas gradualmente ao longo deste ano.
 
Ainda de acordo com a empresa, outros produtos continuarão sendo produzidos na planta. Mas o movimento gera apreensão na questão do nível de empregos da unidade. Procurada, a Volvo não quis comentar o assunto.
 
Operação Lava Jato
Para o CEO da BMC Hyundai, Felipe Cavalieri, a crise deflagrada pela operação Lava Jato, com a consequente citação de grandes empreiteiras na investigação em torno da Petrobras, pode trazer ainda mais dificuldades para o segmento.
 
"A maioria das construtoras investigadas tem contratos em obras de infraestrutura. Aquelas com negócios majoritariamente em solo nacional vão sofrer mais e impactar a nossa cadeia", afirma Felipe Cavalieri.
 
O executivo está à frente da Brasil Máquinas (BMC), sócia da Hyundai Heavy Industries na construção e operação de uma fábrica em Itatiaia (RJ). A marca sul-coreana decidiu, há alguns anos, produzir localmente equipamentos da chamada linha amarela, que engloba retroescavadeiras e escavadeiras.
 
"Também estamos enfrentando dificuldades. Reduzimos em 30% a nossa folha de pagamento, diminuímos as filiais e os custos para nos adequar à baixa demanda", destaca.
 
Segundo Cavalieri, as vendas do segmento em que atua caíram muito e a inadimplência aumentou consideravelmente. "As empresas da cadeia da construção civil estão com dificuldades tanto para honrar com seus compromissos quanto para investir em novos projetos", acrescenta o CEO da BMC Hyundai.
 
Para este ano, a companhia pretende manter os resultados com custos menores. "Todas as linhas vão sofrer com a queda da demanda. O cenário é de incertezas, então vamos trabalhar para fazer o mesmo com menos recursos", acrescenta Cavalieri.
 
Cenário
Em 2014, as vendas de máquinas para construção caíram 6%, para cerca de 67,7 mil unidades, de acordo com estudo da entidade do setor, a Sobratema.
 
Neste cenário, algumas marcas que chegaram ao País há alguns anos acabaram desistindo de montar operações fabris.
 
Outras, como a chinesa Sany, revisaram seus planos para o Brasil. A companhia colocou o pé no freio para investimentos em nacionalização de produtos, por exemplo.
 
Já a alemã Liebherr, que fabrica entre outros produtos betoneiras e retroescavadeiras na cidade de Guaratinguetá (SP), estaria em vias de demitir até 120 dos cerca de 600 funcionários. Fontes de mercado afirmam que a baixa demanda levou a medidas drásticas de cortes de custos, que incluiriam até a redução de salários do efetivo. Procurada, a empresa não se pronunciou até o fechamento desta edição.
 
Para o CEO da BMC, o cenário difícil não deve ser passageiro. "Todas as empresas da cadeia da construção civil estão em dificuldades. Estamos bastante conservadores para o ano", afirma Cavalieri. "A situação deve perdurar ao menos por todo este ano", complementa.