Publicado em 10 de junho de 2015

Folha de Londrina - Economia - Pág. 1 

Pacote é 'alento' para o setor de construção

 Nelson Bortolin 

Expectativa é que feira do setor de máquinas e equipamentos em São Paulo movimente até R$ 10 bilhões

São Paulo - A divulgação do pacote de concessões pelo governo federal serviu como "alento" ao setor de equipamentos para construção, ontem, durante a abertura da M&T Expo Máquinas e Equipamentos – 9ª Feira e Congresso Internacionais de Equipamentos para Construção e 7ª Feira e Congresso Internacionais para Equipamentos para Mineração, promovida pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), no Centro de Convenções Imigrantes em São Paulo. Mas ninguém espera impacto concreto para este ano.

O presidente da Volvo Construction Equipment Latin America, Afrânio Chueire, lembra que o governo ainda precisa estabelecer o "marco regulatório e o modelo financeiro" dos projetos. "O impacto não é imediato, mas serve de alento para nós", afirma. A fábrica, que tem sede em Curitiba, estima fechar o ano com uma retração de 30% no mercado brasileiro.

Jucivaldo Feitosa, diretor comercial do Banco CNH Industrial, diz que ainda é cedo para avaliar o impacto do pacote. "Tem toda uma burocracia a ser cumprida para viabilizar projetos deste porte. Mas impacto real neste ano não haverá", afirma. De qualquer forma, segundo ele, o anúncio traz "mais ânimo" para os empresários investirem.

Vice-presidente da Sobratema, Eurimilson Daniel disse que o pacote estimula e dá confiança aos empresários, que já "começam a se mexer" para atender as demandas futuras. "Isso é tão importante, ou até mais importante, que os projetos em si neste momento", declarou.

Clima

Os discursos na abertura da M&T equilibraram-se entre a dura realidade dos números e um certo otimismo "de que o pior já passou". Os organizadores do evento disseram esperar uma movimentação de até R$ 10 bilhões. Em entrevista coletiva, o consultor da Sobratema Brian Nicholson apresentou o resultado de uma recente pesquisa com 30 empresas do setor. Elas disseram estar comprando em média 41% menos nos primeiros meses de 2015, na comparação com o mesmo período de 2014.

Segundo ele, 96% das empresas relataram ter feito demissões. Estima-se que o setor de construção empregue 12,5 milhões de pessoas no Brasil e teria demitido 400 mil, de janeiro a maio. Nicholson disse que, apesar dos números, há alguns fatores, além do pacote de concessões, que trazem esperança para o setor. Um deles é a melhora do ambiente político no País. "A situação em Brasília está se acalmando." O ajuste fiscal, realizado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, já teria surtido o efeito de restabelecer a confiança dos investidores internacionais no Brasil. "Os temores de rebaixamento do País (pelas agências de risco) já não são tão grandes", declarou.

O presidente da Sobratema, Afonso Mamede, também procurou demonstrar otimismo. "O pior já passou, já chegamos ao fim do poço. Começamos a notar alguns sinais de melhora", disse. Questionado sobre o impacto no setor das investigações da operação Lava Jato, que levou dirigentes das grandes empreiteiras à prisão, Mamede respondeu: "As empresas envolvidas estão sendo investigadas e julgadas. O ruim é que estão condenando todo o setor", reclamou.

Já Eurimilson Daniel admitiu que a Lava Jato terá efeito de incentivar a criação de novas empresas no setor, uma vez que as maiores estão sob a mira da Polícia Federal. "O mercado nunca foi fechado. Que venham as entrantes. São bem-vindas. Recentemente um consórcio desconhecido ganhou uma grande licitação em Brasília", afirmou.

Por outro lado, ele disse que o País não tem como prescindir das grandes empreiteiras, principalmente no que se refere às obras aeroportuárias e de hidrelétricas. Daniel alega que a lei anticorrupção, regulamentada em março, está fazendo com que as empresas do setor invistam em compliance (atividade empresarial que trata do cumprimento das regras e leis).