Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 29 de junho de 2015

DCI - Fabricantes de máquinas aumentam conteúdo local para ganhar mercado

Fabricantes de máquinas aumentam conteúdo local para ganhar mercado

Diante da exigência do governo de 60% de conteúdo local para o acesso ao financiamento do BNDES, empresas do setor ampliam a gama de produtos nacionalizados para brigar pelo cliente

A fábrica da JCB em Sorocaba (SP) já produz três modelos de máquinas que são vendidos com Finame
A fábrica da JCB em Sorocaba (SP) já produz três modelos de máquinas que são vendidos com Finame 
Foto: Divulgação

São Paulo - Os fabricantes de máquinas para construção planejam nacionalizar uma gama maior de produtos diante do mercado mais acirrado. A decisão aumenta a competitividade das empresas principalmente porque garante financiamento do BNDES aos seus clientes.

O banco de fomento exige, hoje, conteúdo local mínimo de 60% para que o modelo possa ser vendido através do financiamento especial para bens de capital. O Finame possui taxas e condições de pagamento mais atrativas do que os bancos comerciais.

"Com o aumento de conteúdo local, ficamos menos expostos ao câmbio e garantimos acesso ao Finame, que é essencial para competir neste mercado", afirmou ao DCI o presidente da JCB, José Luiz Gonçalves.

Segundo ele, para o período entre 2015 e 2017, o grupo britânico irá investir R$ 50 milhões em novos produtos e para localizar mais equipamentos, que serão produzidos na planta de Sorocaba (SP), que demandou investimentos de R$ 350 milhões.

O executivo conta que, atualmente, a JCB possui três máquinas "finamizadas" (termo usado pelo mercado para produtos que podem ser comercializados através do financiamento do BNDES): retroescavadeiras, escavadeiras e pás-carregadeiras.

"Essa última conseguimos finamizar no final de maio, o que deve garantir um aumento das nossas vendas", pondera Gonçalves.

A John Deere, maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo, também busca aumentar o índice de nacionalização no ramo da construção civil. A companhia conta com uma fábrica de retroescavadeiras e pás-carregadeiras e outra de escavadeiras, ambas localizadas na cidade de Indaiatuba (SP).

"Estamos em meio a um período de projetos para nacionalizar mais modelos", conta o líder da divisão de construção e florestal da John Deere do Brasil, Roberto Marques.

O executivo não revela quais máquinas devem ser nacionalizadas, mas não descarta aquelas de grande volume de vendas do mercado brasileiro, como tratores de esteira e motoniveladoras.

"De qualquer maneira, levaremos no mínimo dois anos para nacionalizar estes produtos", acrescenta Marques.

Conjuntura

Há alguns anos, as perspectivas promissoras para o mercado de construção civil atraíram os olhos do mundo para o Brasil. Diante do cenário, a Hyundai resolveu iniciar a fabricação local no segmento de linha amarela para entrar na briga por um mercado altamente dependente do Finame.

"A promessa de obras de infraestrutura trouxe muitos fabricantes. Porém, alguns tiveram que desistir do aporte porque a demanda não veio conforme o esperado", afirma o presidente da BMC-Hyundai, Felipe Cavalieri. Hoje, a marca produz versões de retroescavadeiras, pás-carregadeiras e escavadeiras em Itatiaia (RJ).

De acordo com o executivo, o setor deve demorar a ficar aquecido novamente. "Enquanto isso, investiremos em novos produtos e em mais produção local para enfrentar a crise", destaca Cavalieri.

Perspectivas

Apesar dos esforços dos fabricantes para fazer frente à crise, o desempenho deve decepcionar neste ano. Segundo projeções da entidade que abriga estas empresas, a Sobratema, as vendas de máquinas para construção devem cair cerca de 35% em 2015.

"Estamos operando a uma capacidade muito aquém do ideal", comenta o presidente da JCB. Na opinião dele, tanto o faturamento quanto a produção da empresa devem apresentar uma queda em torno de 25% neste ano.

Apesar da retração, Gonçalves acredita que a JCB deve manter a sua participação de mercado neste ano, mesmo com as marcas nacionalizando mais produtos. "Temos investido na rede, em treinamento, pós-vendas e vamos buscar a liderança em retroescavadeiras e manipuladores", ressalta.

Gonçalves acredita que a exportação também deve contribuir para melhorar a receita da companhia. "Temos crescido na América Latina e pretendemos obter um incremento de 50% nas vendas externas", estima o presidente da JCB.

Já o executivo da John Deere acredita que o histórico da empresa no segmento agrícola será um diferencial na briga por market share em máquinas para construção. "Usaremos nossa tradição para ganhar mercado no segmento. Em alguns anos, estaremos entre os líderes", aposta Marques.

O presidente da BMC-Hyundai revela que a empresa deve apresentar uma queda em linha com o mercado, neste ano, e que a retomada do setor só deve vir em 2017. "Porém, mesmo diante do aumento da competição, não vamos entrar na briga por preço. Temos bons produtos e pós-vendas para crescer", aposta Cavalieri.

Juliana Estigarríbia