Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 30 de junho de 2016

DCI - Mercado de máquinas deve encolher quase 30% em 2016


Mercado de máquinas deve encolher quase 30% em 2016
 
Compasso de espera. As vendas do setor caíram para quase um terço do volume médio de 2011 a 2014. Empresas não contam com o retorno de Dilma Rousseff para destravar os investimentos
 
Fabricantes investiram altas cifras para atender ao aumento da demanda no Brasil, entretanto, o retorno veio muito abaixo do esperado
Foto: dreamstime 
 
São Paulo - Apesar da melhora no humor dos executivos do mercado de máquinas de construção, diante do governo interino de Michel Temer, o compasso ainda é de espera. O setor estima para o ano uma queda nas vendas em torno de 30% e aguarda definição política para destravar investimentos, principalmente em infraestrutura.
 
"O mercado está respirando mais aliviado, mas as vendas se mantêm no mesmo patamar. A intenção de investimento ainda não mudou", afirma o CEO da BMC Hyundai, Felipe Cavalieri.
 
O executivo destaca, entretanto, que a empresa não cogita a possibilidade de retorno da presidente afastada Dilma Rousseff. "Não conseguimos nem trabalhar com essa hipótese. Nossa aposta é que o governo Temer vai se manter até 2018."
 
A associação que agrega empresas do setor, a Sobratema, também trabalha com um horizonte sem o retorno de Dilma. "Se o antigo governo voltar, todo o otimismo que está sendo construindo aos poucos no mercado vai por água abaixo", declara o vice-presidente Eurimilson Daniel.
 
O segmento de máquinas para construção foi uma das grandes promessas do País principalmente a partir de meados de 2011. Considerado um grande "canteiro de obras", o Brasil recebeu investimentos impulsionados por infraestrutura, indústria, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
 
No entanto, a profunda deterioração da economia atingiu em cheio os segmentos demandantes da indústria de linha amarela, como é conhecido o setor de máquinas de movimentação de terra.
 
"O impacto da Copa do Mundo e da Olimpíada foi muito baixo. Os investimentos não ocorreram como era previsto", afirmou recentemente o presidente do grupo CNH Industrial para América Latina, Vilmar Fistarol, durante seminário Autodata, em São Paulo.
 
O executivo comanda, entre outras empresas, os selos Case Construction e New Holland Construction, que atuam há muito tempo no País. "Esperávamos mais do Brasil, porém, diversas obras sequer foram concluídas. O País perdeu uma grande oportunidade de crescer", acrescentou.
 
Fistarol espera que, com o governo interino de Michel Temer, os investimentos possam começar a sair do papel. "O que nós queremos é encontrar um ambiente político favorável para os negócios."
 
Daniel, da Sobratema, estima que entre 2010 e 2014, as vendas de máquinas de linha amarela giraram em torno de 30 mil unidades anuais. No ano passado, esse volume caiu para cerca de 13 mil e, para 2016, não deve chegar a 10 mil máquinas.
 
"As empresas preferiram tirar o pé do acelerador e adiar investimentos. Outras cortaram capacidade e algumas até decidiram sair do País", revela.
 
A BMC é sócia da Hyundai Heavy Industries na produção de máquinas da marca sul-coreana em Itatiaia (RJ). A empresa brasileira também comercializa outros selos. "Conseguimos reagir rapidamente à queda da demanda, cortando custos e enxugando estrutura", explica Cavalieri.
 
Mas este não é o consenso no mercado. "Muitas empresas saíram do ramo", acrescenta ele.
 
Fistarol, da CNH, conta que o grupo está administrando constantemente os estoques. "Temos que fazer ajustes o tempo todo." Segundo o executivo, a utilização da capacidade instalada do grupo, em linha amarela, foi reduzida a quase um terço.
 
Locação
Segundo dados da Sobratema, o mercado de locação de linha amarela deve recuar quase pela metade neste ano. "A ocupação da frota está muito baixa", pontua Daniel.
 
Ele revela que a maioria das empresas está trabalhando com ocupação aproximada de 30% a 35%, quando o ideal é 60%. "A queda da demanda em construção civil e, em maior grau, de obras de infraestrutura, derrubou a atividade", comenta.
 
As locadoras são grandes consumidores dos fabricantes de máquinas para construção e chegaram a representar 30% do faturamento do segmento entre 2010 e 2012. "Com a redução das obras e do crédito, a renovação da frota foi bem menor nos últimos dois anos", destaca.
 
O dirigente acrescenta que as locadoras vão demorar mais tempo do que a retomada da economia para voltar a comprar máquinas. "Ainda há uma grande ociosidade da frota."
 
 
 
Retomada
Com as incertezas no cenário político, empresas do setor de máquinas para construção se mantêm céticas em relação à retomada do mercado.
 
"Não imaginamos que, com o governo interino, vamos ter uma enxurrada de novos projetos. Cautela é a palavra de ordem", observa Cavalieri.
 
O executivo salienta, contudo, que o ânimo mudou no mercado. "O fundo do poço já passou", acrescenta. Ele revela que a BMC Hyundai passou a fazer embarques regulares para a América Latina, sendo que 25% da produção de Itatiaia serão exportados, neste ano. "Mais do que a apreciação do dólar, essa decisão foi estratégica para usar capacidade da fábrica", justifica o executivo.
 
O vice-presidente da Sobratema avalia que o principal caminho para alavancar a economia do Brasil é o investimento em infraestrutura. "Assim como no resto do mundo, essa deve ser a linha adotada pelo governo brasileiro", pondera. Daniel diz ainda que a entidade trabalha com a perspectiva de novas concessões e parcerias público-privadas (PPPs) para estimular o crescimento da economia. "Mas isso só vai acontecer quando o governo de Michel Temer deixar de ser interino para se tornar definitivo", avalia.
 
Juliana Estigarríbia