Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 19 de setembro de 2016

DCI - Indústria vê com cautela futuro do Finame

Indústria vê com cautela futuro do Finame

Panorama atual. Amplamente dependentes da linha de financiamento do BNDES, fabricantes de máquinas, caminhões e seus implementos pedem previsibilidade e menos burocracia

O segmento de máquinas de construção, muito dependente de crédito, teve queda de 50% da demanda
O segmento de máquinas de construção, muito dependente de crédito, teve queda de 50% da demanda
Foto: dreamstime

São Paulo - A indústria aguarda com cautela as novas diretrizes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para bens de capital. Agentes de diversos setores não preveem taxas subsidiadas, mas pedem previsibilidade e menos burocracia.

"O governo não tem recursos para subsidiar o Finame e há uma enorme burocracia que limita os candidatos à linha [de crédito] do BNDES", avalia o vice-presidente da entidade que representa fabricantes de máquinas para construção (Sobratema), Eurimilson Daniel.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), Alcides Braga, também acredita que a era de taxas subsidiadas não deve voltar. No entanto, ele defende que o BNDES melhore as condições do Finame. Segundo ele, o volume financiável (para empresas de grande porte) poderia subir a 80% do valor total do bem, diferentemente dos atuais 50%.

"Além da forte crise que a indústria enfrenta, o que derrubou drasticamente a demanda, as taxas e condições atuais da linha de crédito do BNDES estão praticamente proibitivas", justifica Braga.

A partir de 2009, o BNDES lançou o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) no âmbito do Finame. Entre outras medidas, as taxas de juros eram pré-fixadas e chegaram a ser negativas, de 2,5% ao ano.

Agora, com o sistema de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que prevê alíquotas variáveis que giram em torno de 14% a 18% ao ano (dependendo do caso), a demanda pelo crédito recuou.

"Houve uma queda drástica do limite de crédito e está mais difícil ter acesso à linha do BNDES", comenta Daniel. Ele ressalta que, ainda assim, o Finame é mais atrativo do que outras modalidades, como leasing ou empréstimo de bancos comerciais. "Mas as taxas atuais estão longe de fomentar a indústria."

Recentemente, o dirigente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para caminhões, Luiz Carlos de Moraes, disse que o Finame continua impactando uma demanda já deprimida.

"Hoje, a taxa de juros gira em torno de 16% a 17% ao ano, dependendo do risco, o que é muito alto para bens de capital", declarou em balanço mensal do setor.

Dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) apontam que em 2008 - antes da implementação do PSI - a participação do Finame nas vendas de caminhões e ônibus foi de 50%, ficando o restante para leasing (30%), à vista (10%) e financiamentos (8%).

Entre 2009 e 2014, a participação da linha de crédito do BNDES nos emplacamentos de veículos pesados variou entre 66% até 77% do total.

"Sempre houve um share significativa do Finame nas vendas de caminhões porque, historicamente, as taxas de juros da linha de crédito do BNDES são mais atrativas do que as praticadas no mercado", explica o presidente da Anef, Gilson Carvalho.

No entanto, as condições especiais do PSI estimularam a aquisição de caminhões. "Muitas vezes, a compra era mais uma oportunidade do que necessidade", acrescenta o dirigente.

Em 2015, a participação do Finame nas vendas de caminhões e ônibus teve recuo para 66% do total, conforme balanço da Anef, e no primeiro semestre desse ano ficou em 63%.

Cenário incerto

A nova diretoria do BNDES, sob o comando da presidente Maria Silvia Bastos Marques, ainda não deu sinais claros de qual deverá ser a política do Finame.

Para Carvalho, dificilmente a instituição adotará taxas de juros prefixadas novamente. "As condições que vimos no passado, no âmbito do PSI, não devem voltar", pondera.

Diante da forte retração da economia, Carvalho acredita ainda que os recursos disponíveis para o Finame, neste ano, não devem ser usados em sua totalidade. "Talvez haja sobra do funding porque a queda da demanda por bens de capital foi muito grande", pontua.

Braga, da Anfir, ressalta ainda que os bancos que fazem a intermediação do negócio estão muito conservadores. "Devido ao cenário, as instituições financeiras têm exigido mais garantias porque o universo tomador está bastante apertado."

Apesar do cenário nebuloso e da certeza de uma retomada lenta da economia, o dirigente da Sobratema se diz otimista.

"É difícil acreditar que a situação pode piorar. A expectativa geral é de um certo otimismo", analisa Daniel.

Para Braga, a definição política é um ponto positivo. "Estamos um pouco mais animados. No final das contas, o fundo do poço é uma boa notícia."

Juliana Estigarríbia