Publicado em 06 de maio de 2020 por Mecânica de Comunicação
A valorização do espaço público nas cidades deve aumentar após a pandemia do novo coronavírus. Contudo, a forma de utilizar esses locais e até a relação entre a pessoa e o ambiente serão diferentes, uma vez que o distanciamento social está trazendo uma reflexão sobre os ambientes construídos. Essa foi uma das conclusões dos especialistas que participaram do webinar BW Talks, promovido nesta quarta-feira, dia 6 de maio, cujo tema foi “Impactos ambientais da Covid-19 no setor da construção”.
“Não acredito que será necessário criar novas dinâmicas, porém é perceptível que estamos sentindo falta do espaço público e do ambiente aberto. E, justamente, essa saudade vai trazer uma valorização desse tipo de local”, disse Marcelo Nudel, sócio-diretor da Ca2 Consultores e curador do Núcleo Construção Sustentável da BW Expo e Summit 2020 (agendado para outubro 2020).
Além da valorização do espaço, Ulysses Mourão, membro executivo da empresa EBP Brasil e curador do Núcleo Valorização de Áreas Degradadas da BW 2020, analisou que a forma de usar os espaços públicos pela população será diferente pela mudança de hábito que tem sido provocada pela Covid-19. “Podem ocorrer mudanças na forma de construir novos ambientes coletivos, mas isso levará um pouco mais tempo, já que envolve investimentos, projetos e a construção propriamente dita”.
Hewerton Bartoli, presidente da Abrecon – Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição e curador do Núcleo Reciclagem de Resíduos na Construção da BW 2020, concordou que haverá uma maior valorização dos espaços coletivos e acrescentou em sua avaliação que novas soluções podem surgir nos meios públicos. Porém, para ele, quaisquer mudanças vão acontecer a médio a longo prazo, porque enquanto não houver uma vacina, a insegurança sanitária poderá continuar na sociedade.
Já o arquiteto e urbanista Daniel Corsi, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, trouxe um alerta aos participantes do webinar, ao lembrar que houve uma reconquista do espaço público pelos cidadãos, especialmente, em São Paulo, uma cidade considerada de “muros”, a partir de 2013. “Certamente, a questão mais preocupante e delicada é que essa reconquista da dimensão urbana não seja anulada com a pandemia. Não podemos intensificar as ilhas isoladas que estão arraigadas na estrutura paulistana. É importante manter essa conquista, entretanto de forma equilibrada e segura”, enfatizou.
Corsi também ressaltou que o distanciamento social provocado pelo novo coronavírus pode levar a descentralização de polos urbanos. “Isso é positivo, porque não é mais possível resolver tudo a partir de um único centro. A cidade precisa ser policêntrica, ou seja, ter uma estrutura mais diluída em que a pessoa consegue ter todos os serviços básicos e fundamentais perto de sua residência. Sem dúvida, essa é uma mudança brutal”. Atualmente, em São Paulo, boa parte da população perde de duas ou três horas em deslocamentos.
Nesse sentido, o uso de brownfields para a construção de ativos imobiliários – parques, centros comerciais, edifícios residências, entre outros – pode ajudar nessa descentralização. “Com a crise, as brownfields estão ficando mais baratas e podem ser uma oportunidade para o desenvolvimento desses tipos de produtos. Esses locais podem ganhar um novo uso se adequando a realidade que virá pós-pandemia”, afirmou Mourão.
Desperdício, tecnologia e industrialização
O webinar BW Talks também trouxe reflexões sobre industrialização e o desperdício. Bartoli contou que a maior dificuldade do setor da construção é fazer com que a sociedade e governo criem marcos regulatórios, mas principalmente que sejam de fato cumpridos. “O segmento gera uma quantidade de resíduos, sendo uma parte destinada de forma incorreta, sem qualquer controle sanitário”. Atualmente, o índice de desperdício está entre 20 a 30% no setor, enquanto que na indústria automotiva, esse percentual é de 1%.
Segundo o presidente da Abrecon, mais da metade do resíduo é inerte (concreto e alvenaria). Isso significa que entre 50% e 70% é passível de beneficiamento, ou seja, transformado em um material para usado na própria construção civil, como por exemplo, a brita. “Precisamos repensar a forma de consumo, porque os materiais são finitos, como a areia e a rocha, nesse caso. Podemos priorizar a aplicação dos materiais reciclados ao invés dos materiais naturais em diferentes áreas no setor”.
De acordo com Mourão, o desperdício gera custo e estende prazos de uma obra. “A covid-19 está mostrando que cada segundo é vital para a vida das pessoas. Assim, acredito que a inovação e industrialização vêm agregar o setor porque desperdício e prazo vão estar conectados neste momento e no futuro”.
Corsi considerou ainda que existe no Brasil uma cultura pautada no concreto armado. “Essa tradição trouxe coisas boas, mas pode impedir o investimento em outros meios de construção e tecnologia”, ponderou. “O importante é entender qual a situação mais coerente para usar um método construtivo ou uma tecnologia porque, em uma país como o Brasil, o clima e a geografia influenciam. Contudo, ressalto que há uma tendência de construir leve, no sentido de leveza sob o grau de impacto no meio ambiente”, complementou.
No caso das certificações, Nudel esclarece que elas já estão dando um peso um pouco maior para o ciclo de vida de materiais. Ou seja, os impactos ambientais de todo o percurso do material, desde sua extração, passando pelo transporte, manufatura até sua utilização e descarte. “Nesse sentido, a industrialização tem o benefício de poder mapear melhor o ciclo de vida, porque a produção ocorre no ambiente fabril”. Todavia, ele informa que essa questão do desperdício não é foco dos sistemas de certificação que se pautam, principalmente, nos consumos de água e energia. “De todos os impactos ambientais, os três maiores são os consumos de energia, água e a energia incorporada nos materiais. Esse último item pode haver uma redução com a industrialização”.
Por fim, Nudel observou que as mudanças climáticas e o aquecimento global vêm afetando populações em todo o mundo. Isso ocorre porque existe uma linha negacionista frente aos resultados científicos que comprovam a finitude dos recursos naturais e os efeitos da falta de preservação ambiental no clima e nas pessoas. “A intervenção de governos e de empresas é muito importante para garantir a sustentabilidade ambiental, porque infelizmente boa parte da população precisa se preocupar com questões básicas, ligadas ao saneamento, segurança alimentar ou segurança pessoal”, finalizou.
O webinar foi aberto pelo engenheiro Afonso Mamede, presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração). Já a moderação foi feita por Vagner Barbosa, diretor da Agência Canteiro, responsável pelo marketing e comunicação da BW 2020.
Para assistir a íntegra do webinar, basta acessar o YouTube.
BW 2020
A BW Expo e Summit – 3ª Biosphere World, a ser promovida entre os dias 6 e 8 de outubro, no São Paulo Expo, proporcionará uma experiência para todos os seus participantes, por ser o único evento multidisciplinar do mercado direcionado exclusivamente às tecnologias voltadas à sustentabilidade do meio ambiente.
Uma das propostas da BW 2020 é trazer os assuntos prioritários da sustentabilidade do meio ambiente para o mercado. Dessa forma, para abordar com profundidade esses temas, o evento conta com os Núcleos Temáticos, que irão conectar redes específicas, compartilhar conhecimento e ampliar as conexões das empresas e profissionais, gerando sinergias e oportunidades de negócio para todos. São eles: Agronegócio Sustentável, Conservação de Recursos Hídricos, Construção Sustentável, Economia Circular, Reciclagem de Resíduos na Construção, Transformação Energética – Hidrogênio, Valorização de Áreas Degradadas e Waste-to-Energy.
Av. Francisco Matarazzo, 404 Cj. 701/703 Água Branca - CEP 05001-000 São Paulo/SP
Telefone (11) 3662-4159
© Sobratema. A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte. Política de privacidade