Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 23 de novembro de 2020

Sucesso no campo - Secretário Marcos Penido trouxe os avanços do projeto de despoluição do Novo Rio Pinheiros na BW Expo, Summit e Digital 2020

Categoria Geral - 23 de novembro de 2020

Evento está trazendo conteúdos altamente qualificados sobre temas relacionados às tecnologias para diminuir o impacto ambiental das atividades humanas

 

O secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Marcos Penido, apresentou ao público participante da BW Expo, Summit e Digital 2020, os avanços do projeto de despoluição do Novo Rio Pinheiros, cuja conclusão está prevista para o final de 2022. O evento se encerra nesta quinta (19), mas ainda é possível acompanhar a programar ou rever as apresentações por este link.

 

Com o objetivo de reduzir o esgoto de seus afluentes, o projeto dividiu a bacia do rio Pinheiros em 16 sub-bacias para compreender o funcionamento de cada uma delas. Desse modo 16 pacotes de contratação estão sendo executados para obras de esgotamento necessário nesses locais. Um diferencial do projeto, segundo Penido, é que o modelo de contratação está baseado no metro cúbico de esgoto tratado e na qualidade do efluente. “Ou seja, as empresas só recebem se comprovarem os resultados”, comentou. Até o momento foram executadas 8,8% das 532 mil ligações de imóveis à rede coletora de esgotos, o que correspondem a mais de 47 mil ligações.

 

Para que o projeto siga com avanços expressivos, o secretário reforçou o planejamento e o controle rigoroso em todo o processo, incluindo o monitoramento das 16 sub-bacias, com informações sobre a localização dos coletores, o volume de esgoto que deve ser coletado e a qualidade final do efluente, que deve ter um DBO abaixo de 30 mg/l. O Córrego Ponte Baixa, por exemplo, apresentou resultados bastante positivos: o índice de poluição caiu 86%, mais de 19 mil imóveis foram conectados e o DBO baixou de 100 mg/l para 15 mg/l.

 

Contudo, um desafio desse projeto, conforme explicou o secretário, está nas comunidades, que possuem barreiras físicas e legais para implantação de uma infraestrutura de saneamento. Por isso, a solução encontrada será a construção de miniestações de esgoto – Unidades Recuperadoras da Qualidade das Águas (URQs) – bem próximo a esses locais para tratar esgoto remanescente desses núcleos presente no corpo hídrico. São cinco URQs necessárias para atender uma vazão de esgoto de 500 l/s.

 

Outros pontos tratados por Penido foram a Usina São Paulo, o Pomar Urbano (projeto de requalificação das margens) e as atividades socioambientais. Sobre a usina, na semana passada, o Governo de São Paulo assinou o contrato para sua revitalização. “Os transformadores da antiga usina irão para outro edifício com área 10 vezes menor”, contou.

 

Por fim, ele ressaltou que o Estado de São Paulo está mostrando com esse projeto que não será mais preciso referenciar outras capitais quando se falar de despoluição de rios. “Teremos um rio despoluído e limpo para todo a população”.

 

Na sequência, a Anicia Pio, gerente do departamento de Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), disse que a indústria está em um processo bastante avançado em termos de sustentabilidade ambiental. “Elas já entenderam que precisam trabalhar sua cadeia de valor, que não adianta levar essa prática apenas para dentro da corporação, mas é preciso se preocupar com toda a cadeira de fornecedores, tendo esses micros e pequenos empresários no mesmo patamar de sustentabilidade”.

 

Ela comentou ainda que um dos pontos fortes desta edição da BW é a questão do resíduo gerado. “Isso mostra que é preciso repensar as embalagens, o design, a regeneração do produto, enfim, sua recirculação. Muitos produtos estão passando para o design circular, ou seja, para o reuso e retorno dos materiais no processo produtivo”.

 

Hidrogênio

 

A BW Expo, Summit e Digital 2020 contou ainda com duas palestras da curadora do Núcleo Transformação Energética – Hidrogênio, Monica Saraiva Panik. A primeira trouxe informações sobre o projeto pioneiro de engenharia e inovação, que resultou no design, produção, operação e avaliação de 4 ônibus a célula a combustível, combinando características favoráveis de operação com segurança, alta eficiência, emissão zero e perspectivas de atingir custos competitivos. Eles foram construídos no país, por equipes nacionais e internacionais, e equipados com chassis, carroceria e componentes nacionais, cujo índice de nacionalização chegou a 65%.

 

Chamado “Ônibus à Célula a Combustível a Hidrogênio para Transporte Urbano no Brasil” do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e do GEF (Global Environment Facilities), foi implementado pela EMTU/SP (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), em parceria com o MME (Ministério de Minas e Energia), a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e o consórcio formado por 4 empresas brasileiras e 4 internacionais: Marcopolo, BR Petrobras, Tuttotrasporti, AES Eletropaulo (fase do protótipo), Ballard Power Systems, EPRI International, Hydrogenics e Nucellsys (fase do protótipo). “O projeto combinou alta tecnologia e experiência de empresas líderes no mercado global em suas respectivas áreas de atuação, com a excelência de engenharia da indústria brasileira”, enfatizou Monica.

 

Os ônibus operaram de janeiro a março de 2016, na rota ABD, de 33 km, atendendo 4 municipalidades paulistas e um total de 18 mil passageiros. A distância total percorrida foi de 12.243 km e a média de consumo dos veículos foi de 13,6 kg e hidrogênio/100 km. O investimento de cada ônibus foi de US$ 1 milhão, que à época (2011) o colocou como ônibus mais barato do mundo com essa tecnologia. Atualmente, o valor de investimento está na faixa de US$ 400 mil.

 

Outro sucesso do projeto foi a construção da primeira estação de produção e abastecimento de hidrogênio da América do Sul, a base de eletrólise da água, que funcionou de modo contínuo e automático ao longo desse período. “Essa estação demonstrou um sistema sem emissões para a produção do combustível e a sinergia com fontes renováveis de energia e o transporte urbano de passageiros”, disse Monica. Além da viabilidade econômica e dos benefícios ambientais, o projeto também resultou em ganhos para a sociedade, por meio da transferência de conhecimento, capacitação e especialização da mão de obra, a geração de novos empregos e oportunidades.

 

Na sequência, Monica mostrou como a transformação energética pode trazer negócios para o Brasil, uma vez que o país tem uma matriz energética renovável. “Os sistemas eólico, solar e hidroelétrico podem utilizar o hidrogênio para estabilizar a rede e para aproveitar a energia excedente gerada entre os picos de produção e demanda. Ele pode ser armazenado a longo prazo em tanques e distribuído para outros setores e regiões”.

 

No país, já existem projetos pilotos pioneiros de combinação de fontes, usando hidroelétrica e solar, para a produção e armazenamento de hidrogênio na CESP em Furnas. Mas, existem potenciais em diversas regiões, como o Porto de Pecém, que tem características que o tornam ideal para um vale do hidrogênio. “Pode ser a porta de entrada para o hidrogênio verde produzido no Brasil e exportado para os outros países. Seria possível produzir hidrogênio com energia solar e energia eólica offshore para ser consumido também no complexo industrial, nas indústrias de aço, fertilizantes, cimento, mineração e petroquímica”.

 

Outro local com imensas possibilidades é a Itaipu, onde o hidrogênio verde pode ser produzido com a grande quantidade de energia excedente gerada anualmente e utilizado no Polo Turístico Itaipu e também na região centro-oeste do Paraná, onde o hidrogênio poderia ser reconvertido em eletricidade para garantir o abastecimento das inúmeras cooperativas e áreas agrícolas e pecuárias da região. Outro potencial para essa região é a produção do hidrogênio através dos bio-resíduos. “Seria um projeto de visibilidade para outros países da América Latina”, pondera Monica, até porque a usina quebrou o recorde mundial de geração de eletricidade em 2016 e gerou 2 mil gigawatt hora de energia excedente em 2017, que poderia ter sido armazenada através do hidrogênio, e reutilizada em diversas áreas da economia”.

 

Segundo Monica, há também oportunidades no agronegócio para a produção do hidrogênio verde através dos bio-resíduos na região do Mato Grosso, por exemplo, e a sua utilização para a produção da amônia necessária para a indústria de fertilizantes. A produção de amônia regional nas áreas agrícolas e de pecuária, evitaria um déficit de cerca de 30% na balança comercial brasileira de produtos químicos. O hidrogênio pode ser também utilizado na descarbonização da indústria do aço e na área de mineração, cujo foco a nível mundial está na redução de custos em relação ao consumo e transporte de diesel, o que pode ser considerável em locais remotos.

 

“A exportação de hidrogênio já começou no mundo. O Japão já está importando hidrogênio verde da Austrália por meio de navios com tanques de hidrogênio líquido. O Brasil tem um imenso potencial para se tornar um dos fornecedores globais de hidrogênio verde devido a sua matriz energética 83% renovável. No entanto esse potencial ainda não é reconhecido internacionalmente e o país não aparece nos mapas globais do hidrogênio verde. Isso precisa mudar até porque 95% das empresas globais do setor de hidrogênio estão instaladas no Brasil”, finalizou Monica.