Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 26 de novembro de 2021 por Mecânica de Comunicação

Setor da construção deve entender os aspectos mais relevantes do ESG para agregar valor ao mercado

Os investidores estão cada vez mais incorporando aspectos ESG (Ambiental, Social e Governança) em sua análise e decisões de investimentos, assim como a iniciativa privada está implantando essas práticas. Para Renata Faber, Head de ESG na Revista Exame e analista de ESG na BTG Pactual, as companhias têm que fazer uma boa gestão do ESG, mas alguns aspectos são mais importantes dependendo do setor ou da empresa. “É fundamental entender o que é material em sua realidade, e agir para endereçar esses temas”, disse a especialista no Tendências no Mercado da Construção, realizado no dia 25 de novembro.

Algumas pesquisas mostram que empresas que focaram no material criaram valor e aquelas que gastaram com pontos não materiais destruíram valor ao longo dos anos. Um exemplo tratado por Renata foi uma mineradora que tinha um grande problema ambiental, mas endereçava seus esforços para aspectos sociais.

No caso da construção civil, ela pontuou que há alguns desafios a serem vencidos na área ambiental, como o uso da água, descarte de resíduos e emissões de carbono; e na parte social, como a remuneração e as condições de trabalho nos canteiros de obras. “O que é material muda ao longo do tempo”, pontuou a especialista, que acrescentou que o ESG veio para ficar por conta da nova geração mais preocupada com o ambiental e social; e pelas mudanças climáticas.

Para Renata, não é se, mas quando as empresas deverão neutralizar suas emissões de carbono. “Mesmo sem uma legislação, a pressão dos investidores e clientes fará com que o carbono neutro seja uma realidade”, ponderou. Esse tema representa uma oportunidade para companhias que trabalham com produtos e serviços menos intensivos na emissão de carbono; aquelas que possuem floresta ou que atuam na área de energia renovável.

De acordo com Afonso Mamede, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), os critérios ESG, embora sejam de adesão voluntária, começam a ser cobrados por bancos, investidores, clientes privados e públicos, comércio internacional, sociedade e consumidores. “A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26) mostrou ao mundo que as mudanças são necessárias e urgentes ”, disse.

Para Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema, a indústria tem um papel importante no aspecto ESG, assim como seus usuários: construtoras e locadoras. Além do ambiental, ele ressaltou a integração das pessoas na corporação, abrindo espaço para ouvir profissionais mais jovens, que colaborarão para potencializar aquilo que já é feito e aprender cada vez mais.

Em sua palestra no Tendências no Mercado da Construção, que reuniu quase 2000 internautas, a analista de ESG na BTG Pactual afirmou que as empresas não nascem sustentáveis, e sim, vão avançando nesse quesito ao longo de sua história até chegar ao nível de serem movidas pelos propósito e paixão. Elas podem começar cumprindo as leis e regras, testando algo sustentável para ver a reação de consumidores, colaboradores e sociedade.

Além disso, conforme explanou Renata, as empresas com alto padrão ESG tendem a ser mais inovadoras e possuem um ambiente diverso, conseguindo atrair talentos, focar no longo prazo e, portanto, tolerar erros, têm forte relacionamento com seus stakeholders e são transparentes na comunicação de seus objetivos.

Silvimar Reis, vice-presidentes da Sobratema, pontuou que as empresas que não tiverem aderência aos critérios ESG não terão acesso aos ciclos de investimentos e ficarão fora do mercado. “Não é uma questão de benefícios ou taxas melhores, mas de não receber esse crédito”.

ESG na infraestrutura

Durante o Tendências no Mercado da Construção, Sergio Etchegoyen, presidente do Instituto Brasileiro de Autorregulação do Setor de Infraestrutura (IBRIC), lembrou que o IBRIC foi instituído para estabelecer um ambiente de autorregulação, no qual as empresas se submetessem às mesmas regras, ampliando a transparência do setor no país. A seu ver, essa é uma prática extremamente moderna no âmbito da infraestrutura.

Sergio Leão, diretor de Sustentabilidade do IBRIC, comentou que o ESG já existe há quase 20 anos, mas tem passado por uma evolução. Em 2015, havia 1500 instituições financeiras subscrevendo os princípios e cinco anos depois, mais de 3000 investidores globais signatários. Neste ano, são 4500 investidores institucionais globais, com ativos entre US$ 120 trilhões a 130 trilhões. “Todos os investimentos de infraestrutura passarão pela agenda ESG”, pontuou.

Em sua opinião, não existe agenda ESG sem a integridade, por isso elas precisam ser trabalhadas de forma conjunta e complementar. Leão ressaltou a importância de se ter um olhar no futuro, buscando entender os riscos e oportunidades e como ficará a operação e o investimento; e acrescentou que é preciso incluir a cadeia de fornecedores, parceiros e sócios nas análises dos parâmetros ESG. Outro ponto tratado por ele é que as ferramentas de avaliação devem ser adequadas ao porte, ao risco e ao ambiente de atuação da companhia.

Mercado de máquinas

O mercado de máquinas para construção vivencia uma fase inédita, na visão de Yoshio Kawakami, consultor da Raiz Consultoria e colunista da Revista M&T. “O setor sempre evoluiu, mas hoje vive uma verdadeira revolução. Pela primeira vez, teremos um impacto muito grande, com as mudanças tecnológicas, advindas da transformação digital, que poderão modificar as relações entre os players – fabricante, distribuir e cliente”, disse em sua palestra no Tendências no Mercado da Construção.

A seu ver, a mudança tecnológica não deve ser vista apenas como uma facilidade, uma vez que ela gera novas complexidades, que exigem aprendizado e pessoas tecnicamente ainda mais preparadas e com outras competências. Além disso, o modelo de negócios também deve ser afetado, assim como o portfólio de produtos, que pode ser ampliado o modificado. “Por quebrarem a estabilidade do mercado, essas mudanças podem levar ainda a alteração da posição das empresas líderes, a fusão de companhias e a entrada de um player disruptivo, como foi o caso da Tesla no mercado automotivo”, explicou.

Em sua avaliação, as empresas estão aplicando grandes investimentos para adoção dessas tecnologias. Com isso, a demanda pelo retorno é acelerada, colocando uma pressão adicional ao processo. Contudo, ele salientou que os produtos atuais continuarão no mercado, o que significa a continuidade do setor de reposição de peças.  

Kawakami ponderou ainda que a pandemia trouxe uma consciência sobre a cadeia de suprimentos, e com a expectativa de crescimento do mercado global de máquinas nos próximos anos, é provável que os problemas com a distribuição continuem. Para ele, a disputa por componentes eletrônicos vai se acirrar muito mais.  “É necessário planejar. Entretanto, nunca houve na história uma situação no qual o fabricante precisasse fazer uma projeção de tão longo prazo como atualmente. Os distribuidores e os clientes não estão acostumados a isso”.

Estudo de Mercado

O mais novo e inédito Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção foi apresentado por Mario Miranda. A estimativa é de uma alta de 39% na comercialização de máquinas da linha amarela (movimentação de terra) ante 2020, chegando a 31,2 mil unidades vendidas contra 22,5 mil unidades comercializadas no ano anterior. As vendas totais de equipamentos para construção devem crescer 44% em comparação a 2020, alcançando 49,3 mil unidades comercializadas neste ano.

Para 2022, o Estudo espera um aumento de vendas da ordem de 12% no segmento de máquinas da linha amarela e de 15% para todo o setor de equipamentos para construção. Segundo Miranda, em relação as expectativas para o próximo ano, 48% das construtoras e locadoras estão otimistas com a economia brasileira, 64% estão otimistas com o setor da construção e 64% estão otimistas com sua empresa.

O 16º Tendências no Mercado da Construção foi uma realização da Revista M&T; teve o patrocínio ouro da Gripmaster, John Deere, Komatsu, Metso:Outotec, New Holland Construction, Totvs, e prata da Case Construction, Epiroc, JCB, JLG, Sitech, Sotreq/Caterpillar, Volvo e Zoomlion; e o apoio do Movimento BW, da M&T Expo e Smart.Con.

Para rever o Tendências do Mercado da Construção, basta acessar este link.