Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 15 de fevereiro de 2022

Meio Filtrante - Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

Cristiane Rubim Edição Nº 112 - Setembro/Outubro 2021 - Ano 20 - 15/02/2022

Converter o resíduo plástico em hidrogênio é uma solução para o problema do lixo plástico descartado no meio ambiente e em oceanos


Converter o resíduo plástico em hidrogênio é uma solução para o problema do lixo plástico descartado no meio ambiente e em oceanos. É uma questão que precisa ser resolvida e soluções devem ser encontradas. Porque o Brasil é o quarto maior produtor mundial de lixo plástico, depois de Estados Unidos, China e Índia. Segundo dados da WWF Brasil, de 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico gerados no País, uma porção mínima de 145 mil toneladas, ou seja, 1,3% é reciclada, longe ainda da média global de reciclagem, que é de 9%. Quanto aos resíduos sólidos, dos 79 milhões de toneladas/ano produzidos, 17% deles são plásticos. 

Destruição dos ecossistemas
“A maioria dos resíduos plásticos é descartada em aterros e lixões, de onde, pela ação dos ventos, escapam e vão contaminar a natureza” – aponta Flavio Ortigao, proprietário e chief technology officer (CTO) da Recupera, companhia de hidrogênio branco. Ele cita um estudo recente que indica que 325 mil toneladas de plásticos entram no oceano, onde causam enormes danos aos ecossistemas marinhos. 
A importância da conversão de lixo plástico em hidrogênio para o meio ambiente, a biodiversidade, os oceanos e a saúde das pessoas. “O lixo plástico é o principal fator para a degradação dos oceanos e uma ameaça à economia do mar, que contribui com US$ 1,5 trilhão a 2,5 trilhões em valores anuais. A destruição dos ecossistemas marinhos terá seríssimas consequências econômicas e sociais para bilhões de pessoas” – adverte Ortigao.

Resolver o problema 
“O objetivo de Recupera é resolver esse problema com a coleta dos plásticos na natureza e sua conversão em hidrogênio, que é o veículo da descarbonização de nossa economia. Portanto, transformamos o problema em solução” – afirma o cientista. Nascido no Brasil, Ortigao se estabeleceu na Suécia onde fica a Recupera. Ph.D. em Química de Polímeros pela Universidade de Ulm, Alemanha, é fundador de negócios inovadores. Foi pesquisador em instituições públicas, tendo mais de uma centena de artigos científicos e dezenas de patentes.  
Para a redução do impacto do lixo plástico no meio ambiente, o hidrogênio é uma comodidade química de valor agregado. No mercado mundial, o hidrogênio é negociado a US$ 15/kg.
Segundo ele, são US$ 25 bilhões/anuais que estão sendo perdidos. “De uma tonelada de lixo plástico, que tem valor negativo e enorme impacto ambiental, retiramos 150 kg de hidrogênio. Portanto, agregamos valor ao que hoje não tem valor e, por esse motivo, não é reciclado. Não há latas de alumínio na natureza, porque elas têm valor para a reciclagem” – explica Ortigao. 

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

Do valor negativo ao valor positivo (agregado):
• Do valor negativo: lixo plástico que causa enormes impactos ambientais; 
• Para valor positivo: com valor agregado pela conversão em hidrogênio.
Números do hidrogênio:
• O hidrogênio é negociado a US$ 15/kg; 
• De uma tonelada de lixo plástico, são retirados 150 kg
de hidrogênio;
• US$ 25 bilhões/anuais que estão sendo perdidos.
Proposta da solução:
• Manuseio e disposição qualificada dos resíduos, inclusive tóxicos;
• Valorização dos resíduos e impacto ambiental positivo;
• Hidrogênio de alta pureza;
• Produção descentralizada e constante de energia elétrica e térmica para uso interno ou alimentação da rede.
Fonte: Recupera.

Ideia brasileira
A primeira onda do hidrogênio aconteceu há dez anos, depois parou. Mas no Acordo de Paris, tratado mundial que tem por objetivo reduzir o aquecimento global, foi percebido que há necessidade de descarbonizar e não há volta. Hidrogênio é plataforma de descarbonização, pois sua queima não produz CO2. “Quem não participar dessa descarbonização, vai perder vantagens competitivas no mercado” – disse Ortigao no 14º BW Talks, webinar organizado pela Sobratema que reuniu especialistas para conversar sobre “Hidrogênio branco: solução para o aproveitamento de resíduos plásticos e de biomassa”.
Os estudos iniciais sobre a conversão de plásticos em gás de síntese aconteceram no Brasil dentro da Senergen, em Lorena (SP), em 2012. A empresa, entretanto, não deu continuidade a esses trabalhos. Ortigao foi desligado da empresa e assumiu esses estudos com o grupo na Europa. “Foi em Celje, na Eslovênia, que construímos o reator Gemini para a conversão em baixa temperatura de plásticos em síngas, gás técnico de valor para processos industriais, e a produção de hidrogênio. A ideia é simples, inovadora e disruptiva: os plásticos são armazenáveis em pilhas sólidas orgânicas de hidrogênio. Somos caso peculiar de ideia lançada no Brasil e, posteriormente, desenvolvida na Europa” – reconhece Ortigao.

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

Gaseificação 
O hidrogênio branco é produzido pela gaseificação de plásticos em fim de vida via gás de síntese por simples separação do síngas. 
Os plásticos são longas cadeias de carbono que carregam, pelo menos, dois átomos de hidrogênio por carbono. Para entender o processo feito pela Recupera, é preciso saber que existem três processos de conversão térmica:
• Gaseificação; 
• Incineração;
• Pirólise. 
Por ter interesse na produção de hidrogênio, componente do síngas, a Recupera escolheu como processo de conversão a gaseificação. “O hidrogênio pode ser produzido a partir do síngas por simples separação dos gases, tecnologia já muito utilizada na produção de gases técnicos” – enfatiza Ortigao.
A gaseificação é a oxidação parcial do material, diferente da incineração, que é a oxidação total. “A gaseificação não produz dióxido de carbono, mas síngas, gás composto de hidrogênio e monóxido de carbono. Tanto o síngas quanto o hidrogênio e o monóxido de carbono são gases técnicos de valor para processos industriais” – explica o cientista.  
Veja a produção:

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

A maioria das pessoas conhece a incineração, que é a queima ou a oxidação completa do material com carbono. “Como os plásticos queimam com muita facilidade, a queima produz grande quantidade de calor e dióxido de carbono, principal gás do efeito estufa e responsável pelo aquecimento global, o que se quer evitar” – comenta Ortigao.
A pirólise é o processo térmico sem a presença de oxigênio – condições anódinas. Neste caso, os produtos são sempre em três fases: um gás de pirólise, essencialmente metano, etano, propano e butano em quantidades decrescentes; um óleo de pirólise, que é um óleo pesado como óleo de navio; e, por fim, carvão, o carbono puro. Esses três produtos primários da pirólise podem ser transformados em produtos secundários. 

Diante do impacto ambiental, converter lixo plástico em hidrogênio gera US$ 25 bilhões/anuais

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Contato da empresa
Recupera:
 www.recupera.si