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Publicado em 20 de fevereiro de 2025 por Mecânica de Comunicação

Adoção de práticas conservacionistas ampliam sequestro e estoque de carbono na cafeicultura

A cultura cafeeira desempenha um papel positivo para o saldo da balança comercial brasileira, já que o país ocupa a atual posição de maior produtor e exportador mundial de café (grão/matéria prima). Contudo, esse volume de café produzido, quando manejado de forma convencional, pode ocasionar o aumento na emissão dos gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, contribuindo com o aquecimento global e agravamento das mudanças climáticas.

Em contrapartida, há evidências científicas de que a agricultura conservacionista estoca carbono no solo de forma significativa, comparada a agricultura convencional. Como exemplo, tem-se o sistema AP Romero na cafeicultura, que utiliza multipráticas conservacionistas de manejo do solo, que visam a melhoria do ambiente radicular e proteção do mesmo à erosão e compactação, sendo um de seus pilares o incremento e manutenção constante de biomassa verde e residual na superfície do solo. Os estoques de carbono nesse sistema são superiores a 56 ton C ha-1 em apenas 0,15 m de profundidade, acima do estoque de carbono promovido pelo sistema convencional de produção cafeeira (46,5 ton C ha-1).

O sistema conservacionista reúne um conjunto de práticas eficientes e sustentáveis aplicadas ao solo, a exemplo da braquiária na entrelinha aliadas ao uso de fertilizantes e defensivos agrícolas de forma controlada conforme a necessidade da planta. Melhorias no consumo de combustível fóssil e na eficiência energética, impactam positivamente no potencial de aquecimento global da cafeicultura.

No caso do carbono orgânico do solo, verificam-se efeitos significativos na melhoria da qualidade física do solo e incrementos em carbono orgânico total no sistema como um todo. Salienta-se, ainda, que a precipitação e a temperatura, são eventos capazes de controlar, em escala regional, o processo de decomposição da matéria orgânica do solo e, consequentemente, a atividade dos microrganismos, sendo a taxa de decomposição mais baixa em climas mais secos. Assim, a distribuição de chuvas e a umidade do solo seriam os principais fatores na regulação da biomassa microbiana, influenciando diretamente no sequestro e estoque de carbono do solo. No entanto, esses fatores sofrem interferências dos fenômenos meteorológicos como: o El niño e a La niña.

O sequestro e estoque do carbono no solo ocorre em conformidade com o ciclo do carbono. As plantas absorvem luz solar e CO2 do ar, por meio da fotossíntese; parte do CO2 é usado para crescimento de galhos e folhas, e outra parte, é transportado pelas raízes até o solo. Esse CO2 irá alimentar os microrganismos do solo, que vão ajudar a planta a obter nutrientes. Os microrganismos são responsáveis por criar complexas e estáveis moléculas orgânicas que resultam em formas de carbono. Se o solo for manejado corretamente, continuará armazenando carbono.

A problemática ambiental vinculada a agricultura cafeeira convencional, deve servir como embasamento para adoção de práticas conservacionistas, unindo sustentabilidade ambiental, resiliência e ganhos monetários, sendo essa uma prática fundamental para a conservação do solo, pois protege a diversidade biológica favorecendo o sequestro de carbono pelo mesmo.

Essa transição deve ocorrer de forma gradual, visando a correção do solo e redução ou substituição gradativa da utilização de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas por fontes alternativas (orgânica, biológica e roçagens). De acordo com a literatura, o produtor não consegue arcar com os prejuízos de deixar de produzir enquanto corrige problemas de solo como, as erosões por exemplo, dessa forma é necessário mecanismos e ideias inovadoras que possam orientar a como proceder na adoção de sistemas de manejo conservacionista resiliente.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Sistema conservacionista de produção cafeeira e a geração de crédito de carbono, defendida por Cíntia Ferreira Anis, no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade Federal da Grande Dourados, sob orientação da professora Carla Eloize Carducci e coorientação do professor Clandio Ruviaro Favarini.