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Publicado em 20 de março de 2025 por Mecânica de Comunicação

Efeitos das mudanças climáticas intensificam desigualdades sociais

As mudanças climáticas levantam um debate global, na medida em que envolvem os diversos países em negociações que colocam em discussão os limites do crescimento e o modo como estes definem o desenvolvimento.

A Amazônia também sofre as consequências das mudanças climáticas. A região vem recebendo nas últimas décadas uma pressão de origem antrópica, tanto vindas do desmatamento e incêndios florestais, quanto por pressões resultantes do próprio fenômeno do aquecimento global.

É necessário enfatizar como as mudanças climáticas não atingem a todos da mesma maneira. Sabe-se que populações localizadas em climas tropicais e de maior vulnerabilidade socioeconômica serão as mais atingidas pelos danos climáticos, com situações de secas e inundações, assim como risco de insegurança alimentar. A justiça ambiental está relacionada com a noção de que grupos sociais distintos possuem diferentes responsabilidades sobre o consumo de recursos naturais, assim como são desiguais os efeitos sentidos pelas alterações ambientais.

Os efeitos das mudanças climáticas intensificam os processos de desigualdade de determinados grupos. Eventos climáticos extremos e desastres socioambientais vêm demonstrando um padrão no que se refere ao perfil das populações que sofrem suas consequências. Uma pesquisa sobre o perfil dos atingidos do rompimento da barragem da Vale S.A. na cidade de Brumadinho/MG revela que a população afetada pelos quilômetros de rejeitos são de forma mais presente populações não-brancas (63,8%) e de baixa renda.

A experiência do furacão Katrina, em 2005, nos Estados Unidos, é outro exemplo. A maioria dos afetados pelo desastre foram pessoas negras e de classe baixa em bairros periféricos, onde os diques de proteção estavam em péssimas condições, algo que já era de conhecimento das autoridades locais. O número de refugiados climáticos, por exemplo, tem crescido como um problema global. Em 2014, calcula-se que houve 19,3 milhões de refugiados climáticos no mundo.

O que se percebe é que mudança do clima e seus efeitos ainda não estão presentes no debate público e, inclusive, é uma temática de pouca comoção e aderência social. Por ser um domínio de estudos das “ciências duras”, o modo como as comunidades se relacionam com esses fenômenos raramente é narrado nas pesquisas. As políticas públicas para as mudanças do clima, por exemplo, não se aprofundam ou pontuam porque determinadas populações seriam vulneráveis ou não. E ainda, as estratégias formuladas não consultam amplamente as comunidades interessadas em seus processos de construção de diretrizes e ações.

A temática, portanto, desafia o campo das ciências sociais a encontrar elaborações que possam trazer respostas sobre a atualização e urgência dos fenômenos. Nesse sentido, é interessante atentar para os processos de precarização, assim como para as possibilidades de resistências e enfrentamento que são configuradas a partir de eventos críticos ou processos de vulnerabilidade em contextos cotidianos. Analisar esses movimentos em meio a tessitura da vida, torna-se uma tarefa importante para identificar as possibilidades de existência.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado "A natureza se move e a gente se move junto": práticas de adaptação às mudanças climáticas em comunidades ribeirinhas da Amazônia, defendida por Júlia Menin, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da professora Lorena Cândido Fleury.