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Publicado em 05 de agosto de 2021 por Mecânica de Comunicação

Mudanças climáticas causam impactos socioambientais na zona litorânea do Nordeste brasileiro

Atualmente, o principal impacto das mudanças climáticas em zonas costeiras está relacionado ao aumento relativo do Nível Médio do Mar: translação de praias e cordões de dunas em direção à terra; redução da faixa de areia, com risco de invasão de ondas e consequente aumento da intrusão salina em reservas estuarinas, prejudicando ecossistemas e captação de água em algumas localidades; e erosão costeira devido à formação de ondas mais altas e marés meteorológicas mais elevadas.

Todavia, não se pode excluir os eventos extremos climáticos, como as secas, que podem causar redução da vazão dos rios que, juntamente com o aumento do nível do mar, contribuem para o aumento da intrusão salina nas reservas de água doce; os alagamentos, inundações, destruição de ruas, avenidas, muros e construções e aceleração do processo erosivo da costa.

O Brasil possui uma zona costeira bastante extensa. Apenas o Nordeste brasileiro contempla em extensão litorânea 160 municípios, sendo que quase todos os estados têm suas capitais situadas em zona litorânea, com exceção do Piauí. De acordo com o mapeamento do Ministério do Meio Ambiente, são ao todo 28 municípios que integram a zona costeira do Rio Grande do Norte.

Um exemplo do aumento do nível do mar e de sua consequente erosão costeira severa no leste do litoral potiguar é a Praia de Barra de Cunhaú, situado no município de Canguaretama. De acordo com dados da municipalidade, o mar já avançou mais de 200m desde dezembro de 2018 sobre a faixa de areia destruindo residências, desabrigando mais de 50 moradores e afetando a infraestrutura da Rodovia Estadual - RN 269, onde o mar já destruiu 2m de sua infraestrutura necessitando ser interditada. A estimativa máxima verificada do avanço do mar sobre a costa de acordo com a Secretaria de Pesca do município foi de 2m a 3m por dia.

Dessa maneira, tal infraestrutura afetada tem impedido a circulação de moradores e turistas no local diante dos riscos a que a costa está exposta. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, se o mar continuar a avançar e ultrapassar a barreira de pedras (enrocamento) que foi colocado de forma emergencial, a tendência é o alagamento da cidade, tendo em vista que esta fica três metros abaixo do nível do mar.

Já na Praia de Ponta Negra, situada na Zona Sul da cidade de Natal, foi instalado um enrocamento, cujo intuito é proteger a orla marítima ou o calçadão do avanço do nível de mar e das ressacas. Contudo, houve a proliferação de ratos no local, que usam as pedras como tocas durante o dia, onde estes podem alimentar-se de restos de comida deixados pelos banhistas e residentes.

A segunda vulnerabilidade socioambiental está relacionada à poluição das águas das praias urbanas. Além disso, o processo de erosão causado também pelo avanço do nível relativo do mar já está afetando a orla, causando o fenômeno de encurtamento da faixa da praia, trazendo transtorno aos residentes, comerciantes, hoteleiros e ambulantes que agora têm de disputar por espaço com turistas e a população tradicional pesqueira, que precisa se reorganizar diante da perda e de seu reduzido espaço de trabalho.

Desse modo, fomentar políticas públicas de mitigação às mudanças climáticas, reordenando o uso e a ocupação do espaço urbano com apoio de infraestrutura e tecnologias de adaptação, principalmente em cidades costeiras, é o caminho. Aliado a isso, uma gestão integrada da zona costeira articulada com as diversas demandas da população frente às questões socioambientais é imprescindível para que o Estado consiga atender aos anseios das populações tradicionais, dos movimentos sociais, dos conselhos gestores e sociedade civil a partir de um debate democrático por meio do compartilhamento do poder decisório.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Vulnerabilidades e riscos socioambientais provocados pela mudança climática na cidade de Natal-RN, defendida por Bismarck Oliveira da Silva, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais – Mestrado, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação do professor Fábio Fonseca Figueiredo.