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Publicado em 09 de junho de 2022 por Mecânica de Comunicação

Descentralização dos sistemas de tratamento é alternativa para ampliar acesso ao esgotamento sanitário

Os problemas e limitações da centralização dos sistemas de tratamento têm feito com que a alternativa descentralizada ganhe mais atenção, como uma forma de ampliar o acesso ao esgotamento sanitário, principalmente no que se refere a menor necessidade de recursos e a sustentabilidade ecológica. Quando o efluente é tratado próximo à fonte geradora, pode-se evitar os grandes diâmetros das tubulações de transporte e as grandes distâncias a serem percorridas, além de reduzir a necessidade de expandir as plantas de tratamento existentes para atender às projeções de crescimento futuras.  

Outras vantagens da descentralização são a melhor eficiência de remoção de nutrientes; a aplicação em vários níveis de escala, desde individual até comunidades; a possibilidade de separação dos contaminantes na fonte; e a reutilização do efluente tratado. Além disso, esses sistemas se ajustam melhor às áreas rurais ou em desenvolvimento, aos centros urbanos dispersos, às comunidades isoladas ou às localidades com relevo acidentado. 

Entre os sistemas descentralizados o tanque séptico é a tecnologia mais comumente conhecida para tratamento primário de efluentes no lote (on site systems). No entanto, essa unidade apresenta capacidade limitada na remoção de matéria orgânica e ausência de eficiência na remoção de nutrientes e patógenos, demandando, em geral, um pós-tratamento. 

Como tratamento complementar ao tanque séptico, a Associação Brasileira de Normas Técnicas, através da NBR 13969/97, apresenta como possíveis unidades os filtros anaeróbios, aeróbios e com areia, as valas de filtração, o lodo ativado por batelada e as lagoas com plantas aquáticas. Além desses, existem outras tecnologias muito difundidas mundialmente, mas que até o momento não foram normatizadas, como as lagoas de estabilização e os wetlands construídos (WC). 

Os WC são sistemas de engenharia projetados para utilizar os processos naturais que envolvem a vegetação, o solo e suas populações microbianas associadas ao tratamento de águas residuárias. Tais sistemas são projetados para obter as vantagens dos processos que ocorrem em zonas úmidas naturais, porém fazendo com que ocorram em um ambiente controlado.  

Eles permitem, dependendo da combinação e tipologia, a obtenção de um efluente final com reduzidas concentrações de matéria orgânica carbonácea e de sólidos em suspensão, bem como são capazes de transformar as frações nitrogenadas, reter fósforo e promover o decaimento bacteriano. 

O tratamento do efluente acontece através da depuração da matéria orgânica, transformação da série nitrogenada e retenção do fósforo. Para isso, ocorrem processos físicos – de filtração e sedimentação; químicos – através da adsorção na superfície do material filtrante; e biológicos – com a degradação microbiológica aeróbia e anaeróbia, predação e retirada de nutrientes pelas macrófitas. 

Esses sistemas podem ser utilizados para fornecer algumas ou todas as funções do tratamento secundário ou superior, e podem ser projetados para atender desde uma única residência até cerca de 2.000 pessoas. No entanto, um pré-tratamento a nível primário é necessário antes da disposição do esgoto a ser tratado em um WC, com vistas a maximizar a eliminação de materiais sólidos grosseiros, e assim, evitar o entupimento do material filtrante.  

As informações foram extraídas da dissertação de mestrado Avaliação de tecnologias normatizadas e wetlands construídos empregados no tratamento descentralizado de esgoto por meio de análise multicriterial, defendida por Amanda Kempt Schroeder, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, sob orientação do professor Pablo Heleno Sezerino.