Publicado em 17 de novembro de 2022 por Mecânica de Comunicação
As metacomunidades são conjuntos de comunidades locais conectadas por meio da dispersão de múltiplas espécies com potencial de interagir entre si na escala regional. Esse conceito trouxe um entendimento mais abrangente a respeito da dinâmica espacial e temporal que organiza a biodiversidade no ambiente, sendo seu delineamento espacial fundamental para o avanço da disciplina de ecologia de comunidades.
A abordam ideal para esse levantamento é a identificação de regiões ecológicas, denominadas ecorregiões, por meio de métodos objetivos. Essas unidades de biodiversidade relativamente grandes reúnem distintas comunidades naturais e seu mapeamento com precisão se mostra um desafio, por requerer grande disponibilidade de dados e emprego de análises complexas.
Contudo, essa abordagem oferece diversas aplicações teóricas e práticas, como por exemplo, usar as fronteiras entre ecorregiões como plano de fundo para estudos voltados para a descrição de padrões de acumulação de espécies e de similaridade de comunidades, além de poderem ajudar a elucidar aspectos da história evolutiva e dos padrões de diversificação de linhagens.
As ecorregiões delimitadas com base na distribuição de espécies da flora - elemento crítico na estruturação dos habitat de diversos grupos - são importantes para elucidar padrões de distribuição de espécies da fauna e funcionam como ponto de partida para ações de conservação e manejo bem planejadas.
Para a regionalização da Mata Atlântica, a dissertação de mestrado Biorregionalização da vegetação da Mata Atlântica e sua relação com fatores ambientais, defendida por Luiza Soares Cantidio, Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação do professor Alexandre F. Souza, propôs um esquema a partir de análises de agrupamento sobre dados de distribuição de espécies da flora lenhosa do domínio, e em seguida investigou-se a influência de fatores ambientais sobre os padrões encontrados.
Apesar de ser o segundo maior complexo florestal da América do Sul, não existe até o momento um esquema de ecorregiões objetivo, com base na composição de espécies da flora da Mata Atlântica. Uma investigação baseada na distribuição de plantas lenhosas do domínio sugere uma subdivisão norte-sul, porém uma avaliação mais fina continua em falta. Há, no entanto, diversas propostas de regionalização para grupos da fauna, como anfíbios, répteis, mamíferos e aves, primatas e borboletas.
Ainda que diversos estudos ofereçam investigações sobre gradientes de composição da flora da Mata Atlântica, dois problemas são comuns: eles são desenvolvidos em recortes geopolíticos, não naturais, da extensão territorial do domínio, e muitos deles partem de pré-divisões fisionômicas, não captando todos os padrões de variação florística existentes. A Mata Atlântica também figura em grandes esquemas de regionalização da biota neotropical e mundial, que são, contudo, baseados em análises subjetivas, e não em métodos reproduzíveis.
A Mata Atlântica brasileira sobrepõe-se às áreas mais habitadas do país, incluindo suas duas maiores cidades, São Paulo e Rio de Janeiro. Essa intensa ocupação populacional faz da Mata Atlântica uma das florestas tropicais mais criticamente ameaçadas do mundo, restando apenas aproximadamente 11,73% da sua vegetação original. Mesmo assim, é o domínio brasileiro mais rico em angiospermas, abrigando 15001 espécies (2015). Comporta também 2,7% e 2,1% das espécies de plantas e vertebrados endêmicos do mundo, respectivamente. Seu atual estado de conservação combinado as suas altas taxas de endemismo a qualificam como um dos principais hotspots da biodiversidade mundial e apontam para a urgência do mapeamento de suas ecorregiões.
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