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Publicado em 15 de janeiro de 2026 por Mecânica de Comunicação

Reciclagem de resíduos têxteis e ecoinovações para reduzir impacto ambiental da indústria da moda

A moda rápida, impulsionada pelo baixo custo, gera tamanho desperdício que hoje já é reconhecido pelas Nações Unidas como uma "emergência ambiental e social". Um exemplo próximo do Brasil, de impactos ambientais gerados pelo elevado consumo e descarte inadequado é o Chile. Assim como alguns países do Sul Global, o Chile recebe, hoje, grandes quantidades de roupas usadas e descartadas por países da Europa e Estados Unidos devido à comercialização isenta de impostos e de controle nos portos.

Felizmente, o Brasil não convive com exportações ou importações de roupas descartadas. Mas, o descarte de resíduos sólidos têxteis pelos polos de confecção representa uma grande preocupação para a limpeza urbana. De fato, a irresponsabilidade dos produtores deve ser denunciada, mas o Brasil não possui um local de destino adequado para esses resíduos, e os aterros sanitários não são a melhor opção.

Um dos países da Europa que já implementou políticas de reciclagem de resíduos têxteis é a Noruega. Em Oslo, há diversos pontos de coleta para diversos resíduos incluindo os têxteis, mas também para outros tipos, como: sapatos, resíduos de jardim, resíduos perigosos, resíduos maiores- móveis quebrados, pneus de carro, pias, banheiras, madeira, sucata de ferro, revestimento, entre outros.

Outro exemplo de coleta seletiva para têxteis foi encontrado em Singapura. As caixas de reciclagem inteligente recebem materiais como papel, plástico, alumínio, latas de metal, roupas velhas e vidro, e recompensa os moradores com pontos que podem ser trocados por vales no supermercado por meio de um aplicativo. As caixas inteligentes são uma alternativa ao antigo sistema de coleta de recicláveis da região, que antes recebia todo tipo de material em apenas uma caixa, sem separação. De acordo com a National Environment Agency (NEA), em 2023 foram recolhidos cerca de 600 kg de recicláveis todos os meses, em cada local que tiveram as caixas inteligentes instaladas.

Sobre inovações aplicadas durante a produção das roupas, uma marca italiana chamada Napapijri simplificou o design das suas jaquetas para que toda a peça- tecido, recheio e aviamentos- seja fabricada a partir de um polímero. O material é durável e de alto desempenho, mas também é facilmente reciclado. Além disso, os clientes são incentivados a reciclar seus casacos antigos com a promessa de um desconto de 20% em compras futuras quando devolverem suas roupas usadas.

Já no Reino Unido, foi criada uma iniciativa onde as pessoas podem ajustar ou reparar suas roupas- que devem pertencer a alguma marca parceira- por agendamento por meio de um aplicativo, a SOJO. A ideia surgiu após constatarem que toda semana são enviadas cerca de 13 milhões de peças para aterros sanitários por conta de defeitos facilmente reparáveis e 46% das devoluções para as lojas são devido a ajustes.

A cadeia produtiva têxtil brasileira carece de investimentos, cooperação e ecoinovação. Os empresários carecem de incentivos fiscais e regulamentações mais eficazes. As confecções também precisam receber um maior apoio para aprenderem a implementar medidas para diminuir os resíduos que produzem e/ou reaproveitar o que seria descartado.

Apesar da ausência de incentivos governamentais e regulações, empresas no Brasil já estão investindo em ecoinovações, mesmo sem legislação ou incentivos do governo, para fortalecer sua imagem no mercado e construir um propósito social, seja de maneira independente ou por meio de cooperações.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Setor de confecções têxtil e resíduos sólidos no Brasil, defendida por Pâmella Oliveira Fialho, no Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da professora Valéria Vinha e coorientação da professora Cecília Lustosa.