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Publicado em 03 de outubro de 2024 por Mecânica de Comunicação

Arquitetura e Construção com Terra atende a dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável

Novos paradigmas vêm sendo adotados, para o planejamento e a gestão dos desenvolvimentos urbano e rural brasileiros, nas últimas décadas, visando promover a sustentabilidade, com ênfase nos processos de desenvolvimento endógeno que apoiam os atores na potencialização e uso dos recursos e conhecimentos locais.

Diversas são as iniciativas que ilustram a adoção de valores comuns à permacultura, por exemplo e vêm sendo praticados por ecovilas, comunidades, associações, famílias e grupos diversos. A adoção dos princípios éticos e de planejamento elencados pela permacultura podem trazer diversos benefícios à moradia, ao quintal e ao modo de vida daqueles que os adotam, somando benefícios de espaços mais eficientes, econômicos, recicladores de resíduos produtivos e saudáveis. Uma arquitetura apropriada aproveita os recursos disponíveis na natureza, como sol, vento, chuva e vegetação, organizados no projeto para gerar ambientes com bom conforto ambiental, salubridade e vitalidade.

Pode-se perceber que instrumentos geradores de qualidade habitacional, bem-estar, autonomia e sustentabilidade devem ser valiosos para quem apresenta muitas necessidades e poucos recursos, ou seja, a população de baixa renda. Esse modelo permite construir com menor aporte monetário e maior investimento de energia laboral, utilizando-se da força de trabalho própria ou coletiva, em regime de autoprodução ou de mutirão autogerido.

Um exemplo é a Arquitetura e Construção com Terra - ACT. Aliado ao resgate e promoção da identidade cultural soma-se a incorporação de tecnologias que permitem a modernização e atualização das práticas ao contexto social da atualidade.

A ACT é um campo em que pode haver união de diferentes tipos de conhecimento, isto é, o saber fazer empírico - presente na execução de antigas técnicas construtivas – combinado ao uso de tecnologias atuais, em interface com a pesquisa científica. No universo da Arquitetura, a ACT se estabelece, a partir de três perspectivas: conservação e restauração, arquitetura vernacular (ou popular) e tecnologia "alternativa".

A partir da década de 1960, surgiu a busca por tecnologias apropriadas - ou que se colocam como "alternativas" às convencionais - encontrando, no âmbito da construção civil, uma boa resposta à ACT, a partir de seu modelo artesanal, centrado nos recursos locais e na pequena escala de produção, conotando então relevância às técnicas construtivas à base de solo como material construtivo. Atualmente essas tecnologias são conhecidas como tecnologias sociais e encerram, além das vantagens ambientais, também benefícios socioeconômicos ao contexto em que são utilizadas.

Atualmente, percebe-se a aceitação inicial da ACT dentro dos discursos da sustentabilidade, entretanto os benefícios da sua utilização atendem principalmente à dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável, restando uma lacuna na dimensão social. Isso se dá pelo fato de o peso processo produtivo da construção com terra recair demasiadamente sobre o trabalhador, visto que o material é beneficiado inteiramente, no canteiro de obras, por meio de um trabalho pesado, manual e exaustivo, muito embora se utilize de algum maquinário simples. Sob o ponto de vista socioeconômico, tampouco há diferenciação da construção convencional, pois, em geral, os trabalhadores continuam servindo à lógica lucrativa, excluídos do conhecimento técnico aprofundado sobre o processo produtivo e existe pouca ou nenhuma possibilidade de autonomia, ascensão profissional e emancipação social.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Construções agroecológicas e moradia popular: Projeto Técnico com alternativas à melhoria habitacional, defendida por Priscila Martins Last, à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável e Extensão, sob orientação da professora Viviane Santos Pereira.