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Publicado em 03 de agosto de 2023 por Mecânica de Comunicação

Substância encontrada em filtros solares pode acelerar o branqueamento de corais

Os recifes de coral apresentam grande importância biológica com incomparável diversificação, apresentando um banco genético de relevância para usos atuais e futuros para a população mundial, além de serem agentes protetores da ação erosiva do elevado hidrodinamismo costeiro, importantes indicadores de mudanças globais no clima do planeta e proporcionam alimentos e sustento para milhares de comunidades ao redor do mundo.

O Brasil apresenta os únicos recifes biogênicos do Oceano Atlântico Sul, os quais estão espalhados por 3.000 km ao longo da costa. A diversidade dos corais brasileiros é dividida em quatro táxons, totalizando 41 espécies, sendo destas, 20 endêmicas, ou seja, de ocorrência apenas brasileira.

A crise climática, aliada aos impactos das atividades antrópicas, ameaça a sua existência tanto em escala global quanto local. O aumento da temperatura do oceano afeta a área de dispersão das espécies de coral, assim como a sua capacidade de recuperação após eventos de branqueamento. Além disso, o aumento em apenas um grau de temperatura no oceano ocasiona em plânulas de coral a redução do sucesso de recrutamento, levando a morte.

O fenômeno de branqueamento pode ser causado por uma série de fatores, como variações de salinidade, sedimentação excessiva e poluição, entre outros, pode ocasionar esse fenômeno. No entanto, a ocorrência de branqueamento em larga escala na natureza está geralmente associada a temperaturas elevadas combinadas com alta incidência de luz. Quando o estresse permanece intenso, pode causar a mortalidade dos corais. No Brasil, os eventos de branqueamento na costa brasileira de 2016 a 2017 na região de Abrolhos e 2019 no sudeste do Brasil, atingiram níveis de mortalidade de 3% e 2%, respectivamente.

A oxibenzona está presente na composição de cerca de 80% dos filtros solares disponíveis no mercado. As primeiras investigações sobre os possíveis efeitos do filtro solar nos corais mostraram que o branqueamento foi mais rápido em corais submetidos a temperaturas mais altas, sugerindo efeitos sinérgicos com o aumento da temperatura da água. Em relação aos compostos, a presença de octinoxato e oxibenzona causaram branqueamento de forma rápida e completa, mesmo nas concentrações mais baixas (10 μg L-1).

Uma pesquisa observou que 4% do filtro solar contendo oxibenzona foi absorvido pela pele humana, e os 96% restantes permaneceram disponíveis na área aplicada. Essas substâncias podem chegar ao ambiente marinho de forma indireta, ou seja, após o banho em piscinas e chuveiros e caindo na rede de esgoto, ou de forma direta por meio do banho no mar.

Estima-se que entre 6.000 e 14.000 toneladas de protetores solares contendo de 1 a 10% de oxibenzona são lançados em áreas de recifes de coral todos os anos, colocando pelo menos 10% dos recifes globais e 40% dos recifes costeiros em risco de exposição. Um estudo identificou concentrações de oxibenzona variando de 33 ngL-1 no Ártico a 5 µgL-1 em Hong Kong. As águas superficiais amostradas vieram em grande parte de áreas metropolitanas apresentando desenvolvimento comercial e industrial, em oposição às comunidades de praias ou resorts que observam altos níveis de uso recreativo da água pelos seres humanos. As descobertas representam riscos ecológicos para os ecossistemas marinhos, incluindo a promoção do branqueamento de corais assim como danos à reprodução em peixes.

No Brasil, a oxibenzona foi detectada em água potável e em estações de tratamento de no Estado de São Paulo em concentrações variando de 18 a 115 ngL-1 durante o período do verão. O composto é encontrado no solo, sedimentos, biota, bem como na urina e leite materno.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Percepção da população sobre o uso de protetores solares em ambiente marinho e avaliação da contaminação por oxibenzona em uma área marinha protegida, defendida por Carolina Chuaste Grando, na Faculdade de Agronomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da professora Ines Andretta.