Publicado em 12 de outubro de 2023 por Mecânica de Comunicação
As frutas cítricas consistem em uma parcela da fruticultura que gera grandes quantidades de resíduos. Um dos motivos para tal se deve a uma prática denominada “raleio”, que consiste na retirada e descarte de parte de frutos verdes para melhorar a qualidade final dos frutos remanescentes.
As cascas das frutas cítricas, como a tangerina, devem passar por um processo de gerenciamento de resíduos adequados após o seu uso. Isso se dá, pois, alguns compostos presentes na casca apresentam características antibactericidas, antifungos, antioxidantes, inseticidas e até atividades antiinflamatórias, o que transforma tal resíduo em uma matéria-prima de interesse para a indústria farmacêutica na elaboração de remédios.
Durante o processo de fabricação de sucos, desde a colheita até o envase, é natural que ocorram perdas ao longo da cadeira produtiva. No caso da laranja, aproximadamente 50 % da fruta é descartada na forma de bagaço (composto de casca, semente e polpa), após a extração do seu suco. Fica evidente que este bagaço pode ser utilizado na obtenção de produtos de maior valor agregado.
O processo produtivo para a fabricação de sucos abre diversas oportunidades para a instalação de biodigestores e adoção da digestão anaeróbia como técnica de tratamento dos resíduos orgânicos gerados. No caso da laranja, por exemplo, o Brasil é o maior produtor de laranja no mundo e gera, anualmente, cerca de dez milhões de toneladas de resíduos que são subutilizado.
Os resíduos orgânicos alimentares, em especial as frutas, são excelentes substratos para o processo de digestão anaeróbia e, tendo em vista as grandes quantidades de perdas ao longo do processo, podem ser utilizados como valiosos aliados para as empresas quanto ao abastecimento energético e gerenciamento de resíduos.
Com dados de 2012, um cálculo estimado aponta que dos 804,4 milhões de toneladas de frutas produzidas no respectivo ano, 402,2 milhões de toneladas representariam resíduos de frutas, que poderiam ser convertidos em um valor em torno de 32 x 109 Nm3 de biogás. Se esta quantidade de biogás proveniente de resíduos de fruta fosse posteriormente utilizada como combustível, seria equivalente a 20,8 bilhões de litros de gasolina.
Em quase todos os processos da indústria de alimentos e bebidas são necessários água quente ou vapor, gerado em caldeiras, além do uso de equipamentos de refrigeração e secadores. Em relação ao consumo de energia elétrica no setor de bebidas, os produtos que requerem maiores consumos específicos para a sua fabricação são os sucos e o concentrado de laranja. Nota-se então que utilizar os resíduos de fruta como substratos em um tratamento adequado, como a AD, e a consequente geração do biogás, poderiam ajudar nas demandas energéticas do próprio setor de fabricação de sucos.
O reaproveitamento da biomassa remanescente desses processos para a produção de biogás se mostra como um processo viável para, além de evitar o acúmulo de resíduos, contribuir e reforçar na construção de um modelo de produção estilo cradle-to-cradle (“do berço ao berço”) para os produtores agrícolas, eliminando a ideia de geração de lixo, visto que os recursos são geridos de forma circular de criação e reutilização, dando um “novo berço”, ou um novo destino, aos resíduos.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Tratamento de Resíduos Sólidos Orgânicos: análise do potencial de geração de biogás proveniente da digestão anaeróbia da casca de tangerina, defendida por Rafael Vieira de Carvalho, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio, sob orientação do professor Celso Romanel e coorientação da professora Thais Cristina Campos de Abreu.
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