Publicado em 22 de fevereiro de 2024 por Mecânica de Comunicação

Areia produzida a partir de vidro reciclado pode contribuir para reduzir o consumo de agregados naturais

O vidro é o material que mais leva tempo para se deteriorar no meio ambiente. Dessa forma, faz-se necessário uma tratativa adequada para o descarte desse material. Facilmente reciclado, o vidro é um componente importante em comparação a outros resíduos, devido à sua densidade e peso.

A forma tradicional de reciclar o vidro diz respeito à substituição de agregados na fabricação de novos produtos. Em contrapartida, outra possibilidade existente e menos conhecida é a venda das garrafas e potes de vidro para usinas de reciclagem que os trituram para transformá-los em areia. O processo para fazer areia a partir do vidro reciclado é simples e requer apenas maquinários para triturá-lo. Com um bom investimento e auxílio estatal, esse equipamento pode ser obtido.

A máquina principal é conhecida como triturador de martelo, embora existam muitos tipos diferentes de trituradores que podem processar garrafas de vidro, como trituradores de mandíbula, trituradores de rolo e trituradores de impacto. Apenas os trituradores de martelo podem idealmente transformar garrafas de vidro em areia, porque estes contêm um moinho de martelos que esmaga rapidamente a garrafa, partindo-a e depositando-a nas grelhas. Um enorme poder de esmagamento pode produzir uma alta qualidade uniforme do produto sem a necessidade de utilizar várias unidades para obter a produção necessária.

A areia de vidro reciclado costuma ser usada como aditivo ou substituto para o cascalho, que é mais barato e, portanto, não precisa de padrões mais elevados, o que significa que é possível esmagar todas as garrafas, independentemente da cor.

Entre os benefícios da produção de areia para a construção civil destaca-se o baixo custo em comparação aos agregados feitos de pedra. É importante frisar, também, a economia de recursos naturais agregados, como a areia natural, e a preservação do meio ambiente, pois este material é atóxico e inerte. Além disso, a areia produzida a partir do vidro proporciona maior cobertura por tonelada, pois apresenta densidade aparente menor que a da areia afiada podendo, assim, ser usada em condições climáticas adversas.

Um trabalho em 2009 sobre o uso do aproveitamento de vidro em traços de argamassa e concreto, confirma que a reciclagem do vidro pode trazer inúmeros benefícios à sociedade. Por outro lado, a reciclagem de vidro tem fatores limitantes como impurezas, custos de transporte proibitivos e mistura de cores diferentes que são difíceis de serem separados. Como aspecto positivo, destaca-se que para substituir a areia é viável uma substituição parcial porque ambos materiais apresentam quartzo.

A viabilidade e aplicação na substituição de areia por vidro triturado em concreto a partir de ensaios de resistência mecânica foram realizadas em 2017. Nestes testes, a areia foi substituída por vidro em diferentes percentagens (5%, 10%, 50%) e um concreto sem a presença de vidro como amostra de referência. Nos ensaios realizados, foi possível verificar que a areia de vidro funciona como um agregado no concreto da seguinte forma: na faixa de 5 a 10%, os resultados são superiores à amostra de controle; na adição de até 50%, não há diminuição significativa na resistência à compressão.

Considerando que a areia de vidro proveniente da britagem de garrafas é um material de fácil obtenção e dada a necessidade de se buscar alternativas sustentáveis para a produção de concreto para construção civil, vale a pena leva-lo em consideração. Porém, é preciso aprimorar a técnica, fazendo variações entre as relações água e cimento, diminuindo a granulometria do vidro utilizado, verificando o percentual crítico onde a resistência tende a diminuir, além de verificar a resistência no concreto onde um percentual maior é substituído aos mencionados.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Desenvolvimento Sustentável e produção de materiais a partir da reciclagem - Estudo de caso: Areia feita a partir de garrafas de vidro em Fernando de Noronha, defendida por Juliana Manuela Nieva Del Castillo, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, sob orientação da professora Louise Land Bittencourt Lomardo.