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Publicado em 04 de abril de 2024 por Mecânica de Comunicação

As estratégias de design de moda para a sustentabilidade

A indústria da moda apresenta grande alcance econômico e influência mundial, gera muitas vagas de trabalho diretas e indiretas e é capaz de expandir seu alcance aos mais diversos mercados. Porém, o uso massivo de insumos, a obsolescência programada e o ritmo frenético de produção, consumo e descarte, hoje começam a ser vistos não como sinais de desenvolvimento, mas sim como fontes de preocupação, pois evidenciam a falta de sustentabilidade do sistema.

Mesmo que o fator econômico esteja assegurado para os próximos anos ou décadas, o desgaste do consumidor em relação à indústria e seus valores, assim como os danos ambientais e sociais provocados pela cadeia produtiva, crescem cada vez mais, juntamente às incertezas quanto ao futuro do sistema. Na tentativa de compreender a indústria da moda, necessitamos levar em consideração o comportamento e a interação dos diversos aspectos econômicos e de uma dinâmica social, assumindo uma abordagem sistêmica do tema.

Em termos de sustentabilidade, seria necessária uma reconfiguração não apenas do ciclo de vida do produto de moda, mas sim de toda a estrutura econômica e social existente no contexto desse artefato, por meio de inovações radicais. Nesse âmbito, o design também é reconhecido como fator estratégico, chave para a inovação. O papel do design seria o de criar novas áreas de conflito e negociação nas relações entre os intérpretes, e de criador de novos significados e ressignificações, por meio da inserção de inovações tecnológicas capazes de perturbar a organização do contexto.

De modo geral, as estratégias de design de moda para a sustentabilidade perpassam as seguintes esferas: minimização do consumo de recursos; escolha do processo e dos recursos de baixo impacto; melhoradas técnicas de produção; melhora dos sistemas de distribuição; redução dos impactos gerados durante o uso; aumento da vida de uma peça; melhora no uso dos sistemas de final de vida. Notoriamente essas estratégias consistem em inovações incrementais no sistema de produção já vigente, são as chamadas soluções end of pipe, ou de fim do processo. Formas de remediar os pontos mais críticos no ciclo de vida de um produto, sem gerar grandes alterações na dinâmica do sistema como um todo.

Contudo, é importante lembrar que somos todos consumidores da indústria do vestuário, consumimos elementos com os quais nos vestimos e adornamos. No entanto, a experiência de consumir moda está associada a busca por um valor agregado aos produtos que escolhemos adquirir e usar. Vestir é uma necessidade a qual raros são os casos em que se pode ignorar, já o desejo por peças específicas é uma escolha ativa que realizamos diariamente. Isso significa que o ato de consumir envolve uma série de recursos sociais e culturais, influenciados pelos grupos sociais.

Para estimular as práticas do consumo consciente, são necessários esforços de longo prazo, que visem educar e aumentar o grau de consciência dos consumidores. Para tanto, é papel das organizações criar mecanismos institucionais e modelos de negócios que propiciem o surgimento de novos padrões de consumo. Na indústria da moda, como vimos, a influência social e emocional no processo de aquisição e consumo são de extremo impacto no comportamento do consumidor. O produto com valor de moda é igualmente escolhido pelo usuário pela sua estética e apelo social, e pela sua funcionalidade. Nesse sentido, podemos atribuir a primeira característica ao setor de marketing das organizações e a questão da funcionalidade para o trabalho dos designers.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Moda e sustentabilidade no Brasil: perspectivas sociais sobre o fenômeno da moda sustentável, defendida por Laura Maria Abdon Fernandes, no Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco, sob orientação do professor Leonardo Augusto Gómez Castillo.