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Publicado em 23 de maio de 2024 por Mecânica de Comunicação

Planejamento urbano deve levar em consideração a adaptação às mudanças climáticas

As edificações inseridas no meio urbano, estão sujeitas a um conjunto de efeitos climáticos locais interagindo com ela e sob sua condição energética. O desempenho térmico e o consumo de energia no edifício são influenciados pelas trocas de calor e energia que ocorrem entre a envoltória da construção e seu entorno imediato. Essa integração, estudada por meio de modelagens energéticas de edifícios urbanos, é um meio de avaliar os fenômenos do clima – como o efeito de ilha de calor – no comportamento termoenergético da edificação, além da dinâmica do edifício individual.

Embora o conhecimento do impacto de fatores urbanos sobre a demanda de energia seja apresentado em diversos estudos, o tema não pode ser generalizado a qualquer contexto urbano e ainda é pouco expressivo para abordagens de caráter quantitativo para cada fator. É de grande importância a compreensão da conexão entre o planejamento urbano e a adaptação às mudanças nos climas local e global, visto que alterações em um deles podem alterar o percurso evolutivo do outro.

A estrutura urbana, em conformidade com os aspectos físicos e climáticos, direciona a ocupação do solo e preservação ambiental às particularidades locais, inclinando-se à eficiência e qualidade de vida. Sendo determinada pela densidade populacional, a compacidade do meio urbano pode ser apresentada em diferentes geometrias urbanas, variando em espaços abertos, distribuições de usos e microclimas. Essa morfologia urbana é considerada benéficas à população, uma vez que proporciona menores deslocamentos diários e redução do uso de combustíveis fósseis, porém, a desproporção dessa geometria pode acarretar em barreiras aos recursos naturais e, assim, propender ao maior consumo de energia com luz elétrica e eletrodomésticos.

Tratando-se dos volumes individuais, a predominância de edifícios nos centros urbanos, o torna objeto fundamental para aplicação de alternativas eficientes que visem a minimização do consumo de energia. Essa eficiência energética parte do princípio que, nas mesmas condições ambientais, o edifício proporcione o conforto térmico, visual e acústico com baixo consumo energético. Para isso, é importante o desempenho da envoltória do edifício no controle da temperatura interior, por meio da redução do ganho de calor e das cargas de resfriamento. Ademais, apesar do baixo impacto, os materiais da construção podem corroborar com a formação da ilha de calor urbana e o conforto térmico externo.

Desse modo, o planejamento local deve estar alinhado à atenuação do consumo de energia em edificações, na medida em que as interrelações entre forma, orientação adequada, iluminação natural e comportamento humano são regulados à nível de projeto ou incorporados posteriormente. Soma-se a isso o fato de que a implantação de volumetrias construtivas interfere no microclima local, podendo eventualmente canalizar o fluxo de vento e obstruir a radiação solar nos arredores. Quando o planejamento está alinhado aos requisitos climatológicos, incluindo as necessidades por estação do ano, a massa projetada pode vir a contribuir na obtenção de níveis térmicos e visuais que colaborem com o conforto natural dos usuários.

Diante do cenário de mudanças no clima, diversos estudos têm buscado quantificar os efeitos de fenômenos climáticos em áreas urbanas e agregar, além da mudança no solo, os parâmetros socioeconômicos. A tendência de cidades mais propícias às consequências das transformações climáticas, juntamente à falta de investimentos nas residências, aumenta o nível de vulnerabilidade da população e, até mesmo, nos casos de mortalidade por extremo calor. Assim sendo, a perspectiva futura é de estudos cada vez mais integrados, nos quais, a partir da associação de diferentes parâmetros, devem ser estabelecidas metas e diretrizes voltadas tanto à edificação como à ambiência urbana para a promoção do bem-estar humano.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado O Clima e Suas Especificidades: a Influência no Consumo Energético de Edifícios Urbanos Residenciais, defendida por Layra Ramos Lugão, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, sob orientação da professora Cristina Engel de Alvarez.