Durante o Sobratema Workshop 2015, realizado no dia 8 de abril, em SP, um dos temas em discussão foi a qualificação profissional na construção civil no Brasil e seus impactos na produtividade em um obra. O assunto foi proferido por Rüdiger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting Brasil, que mostrou como o segmento tem muito potencial para avançar em termos de capacitação da mão de obra, por meio de ações e investimentos em treinamento em vários níveis de conhecimento, direcionados tanto para os jovens que estão iniciando sua carreira como para profissionais com experiência no mercado. Acompanhe a entrevista completa:

Rüdiger Leutz – O nível da qualificação da mão de obra na construção ainda está defasado ante a indústria automobilística, por exemplo. No Brasil, temos muitos funcionários nas obras sem formação nenhuma e, muitas vezes, sem experiência profissional. Isso mostra a dificuldade das construtoras e consórcios de projetos para achar mão de obra qualificada para executar os trabalhos. A situação na Europa ou nos Estados Unidos, por exemplo, é um pouco melhor, mas a distância da indústria de construção para a indústria automobilística também é grande nessas regiões do mundo. 

Há também o custo da mão de obra no Brasil, que não é mais um recurso barato. Até sem qualificação ou formação profissional, o custo de mão de obra chegou a um nível elevado. E isso é um ponto especialmente difícil aqui. Em outros países, esse custo também não é mais um fator a ser desconsiderado, mas ainda existe uma boa relação ao nível de qualificação. Na China, temos um nível melhor referente à qualificação e ao treinamento dos funcionários na construção, além disso o custo de mão de obra ainda é muito baixo. E isso é uma vantagem competitiva das construtoras daquele país. Mas, percebemos que, em todos os países, seja sem ou com treinamento ou qualificação profissional, a produtividade ainda tem muito potencial para melhorar. 

Rüdiger Leutz – Tem vários pontos que podem ser melhorados para aumentar o nível da qualificação da mão de obra. Penso em melhorias em três níveis. O primeiro refere-se ao ensino básico do país, com fortes investimentos em educação e em professores. Isso é fundamental e um dos pontos mais importantes do país. O segundo é a indústria de construção, que tem que apoiar um programa de educação e qualificação profissional, com vários níveis, começando pelo pedreiro profissional até o engenheiro ou gerente de projeto de grande porte, para jovens que tiverem interesse em trabalhar na área de construção. Aqui é necessária a participação das associações. E em terceiro, as empresas precisam continuar investindo em treinamento e qualificação profissional no trabalho. A melhoria contínua e a excelência operacional devem ser um padrão para todas as obras e todos os projetos. Com esse investimento em pessoas, as empresas vão ter a vantagem da redução da flutuação das pessoas e um aumento da qualidade na execução. 

Rüdiger Leutz – Diretamente. A mão de obra na construção ainda é o recurso que cria o maior valor. Temos, atualmente, muitas máquinas operando na obra e para operá-las de forma produtiva e eficiente, você precisa mão de obra qualificada. Por isso, para implementar um boa produtividade numa obra, você precisa dos funcionários qualificados e, cada projeto, para aumentar produtividade e eficiência, necessita de muito investimento em treinamento das pessoas e uma forte integração dos funcionários nos projetos.

Rüdiger Leutz – A grande mudança tem que ser a implementação de indicadores de processo no cotidiano dos projetos. Esse entendimento de processo é fundamental em todos os níveis de uma obra. Se cada um foca apenas em sua área, fazendo o máximo possível para atingir as suas metas, sem entender o processo completo, o resultado vai ser de atrasos, de falhas de qualidade e de desperdício. Por isso, os indicadores de processo e o monitoramento diário no chão da obra são fatores de sucesso para implementar uma produtividade maior. 

Rüdiger Leutz – Um exemplo é um projeto de uma empresa alemã, responsável para construir a famosa "Autobahn", que conseguiu aumentar em 66% a produtividade da obra, através da sincronia de processos e treinamento de funcionários. Isso significa que ela consegue construir 66% mais estradas com o mesmo número de funcionários e com o mesmo número de máquinas. No Brasil, uma construtora de prédios residenciais investiu fortemente em treinamento para funcionários, terceiros e subcontratados da obra. Esse investimento somado à implementação do "Lean" na obra resultaram na redução do tempo para finalizar um andar completo do prédio de 13 dias para 5 dias.