Publicado em 10 de junho de 2021 por Mecânica de Comunicação
O setor industrial de papel e celulose foi um dos primeiros setores a alavancar a sustentabilidade no Brasil. Esta afirmação é confirmada pelo fato de as empresas terem se dedicado nos programas de certificação ambiental, florestal e de responsabilidade social. Elas estiveram na liderança de obtenção dessas certificações, geralmente, outorgadas por entidades internacionais de alta credibilidade.
Esse interesse na adoção de práticas mais sustentáveis na gestão de seus resíduos decorre não só do cumprimento dos requisitos legais, mas também em função da oportunidade de transformar um passivo ambiental em um novo produto com potencial de reutilização e comercialização.
Por meio de parcerias com o meio acadêmico, o setor atua no desenvolvimento de trabalhos que tenham como objetivo averiguar a viabilidade do uso dos resíduos dregs (escória ou sedimento) e grits (grânulos) em outros setores. Esses dois resíduos são gerados no processo de produção de papel e celulose do tipo Kraft, que é o mais utilizado mundialmente e é considerado um processo de ciclo fechado por possuir uma unidade de recuperação química de reagentes utilizados para o cozimento da madeira.
Nesse sentido, uma das aplicações dos dois resíduos seria na agricultura, em função da composição favorável por apresentarem teores suficientes de elementos necessários à correção de acidez do solo e baixos teores de contaminantes ambientais, como por exemplo, metais pesados. Para que a viabilidade seja comprovada, é indispensável que a composição físico-química seja sempre avaliada atentando-se para a presença e os teores de contaminantes.
Outras aplicações viáveis seriam na indústria da cerâmica, na recuperação de áreas degradadas por extração mineral e na estabilização de resíduos de minas, na construção rodoviária e na construção civil como agregados para a produção de argamassa.
É importante lembrar que, mesmo que os dregs e grits não sejam classificados como perigosos, possuem potencial de liberação de elementos químicos e, portanto, não são inertes, oferecendo riscos de contaminação do solo e da água, caso não ocorra o devido manejo e monitoramento. Além disso, as quantidades de resíduos sólidos geradas pela atividade também exigem um sistema efetivo de controle e gerenciamento.
Ademais, ao valorizar os resíduos, os recursos naturais não renováveis estão sendo preservados, pois é possível a transformação dessa matéria em um novo produto possibilitando a substituição de um recurso a ser extraído da natureza. Outra vantagem é a redução das quantidades de material destinados aos aterros, aumentando sua vida útil, evitando a ocupação de novas áreas territoriais e consequentemente diminuindo as chances de contaminação da água e do solo. Por fim, estimula-se a adoção de práticas que levem em conta os conceitos e princípios da Economia Circular, resultando em benefícios econômicos, sociais e ambientais.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Economia Circular na Indústria de Celulose tipo Kraft: aproveitamento de resíduos dregs e grits, defendida por Danielle Reis Soares, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio, sob orientação do professor Tácio Mauro Pereira de Campos.
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