Publicado em 29 de setembro de 2022 por Mecânica de Comunicação
Uma das indústrias contribuintes para a elevação das emissões globais de CO2 é a cimenteira, a qual é responsável em média por cerca de 7% das emissões antropogênicas de CO2 na atmosfera, as quais têm origem na queima de combustíveis fósseis e calcinação do calcário para fabricação do clínquer. Contudo, o Brasil é considerado uma referência mundial na produção de cimento com baixa emissão, pois é um dos países que menos emite CO2 por tonelada de cimento produzida.
Muitos estudos têm sido realizados, buscando a avaliação da absorção ou reabsorção do CO2 existente na atmosfera pelos materiais de construção, sobretudo o concreto. Os produtos oriundos do cimento como as argamassas e o concreto têm a capacidade de absorver o CO2 ao longo do tempo, através de um processo denominado carbonatação, que ocorre durante a vida útil da estrutura e após demolição.
A carbonatação é uma reação química entre o dióxido de carbono que penetra e se dissolve nos poros, com os compostos alcalinos que estão presentes na pasta endurecida do cimento hidratado. A principal consequência da carbonatação é a redução do pH, que deixa a armadura suscetível à corrosão, comprometendo a durabilidade das estruturas. No entanto, em estruturas não armadas ou elementos sem função estrutural a carbonatação é considerada benéfica, pois atua como um processo de captura de CO2 da atmosfera.
As argamassas de revestimento por serem aplicadas em camadas de pequena espessura em grandes áreas de exposição, possuem condições propícias para a captura de CO2 em períodos de tempo inferior a 200 dias. De maneira análoga, pavimentos em concretos, meios fios, calçadas, etc., também têm grandes áreas superficiais e pequenas espessuras favorecendo a captura de CO2.
A capacidade de absorção de CO2 das argamassas e concretos é influenciada tanto por fatores internos como externos. Os internos estão relacionados à composição química, tipo de cimento, relação água/cimento e porosidade. Já os fatores externos se referem ao ambiente de exposição, a umidade, temperatura e a concentração de CO2 destes ambientes. A absorção média de CO2 pode variar de 70g CO2/m2 e 50g CO2/m2 de revestimento para ambiente interno e externo protegido da chuva, respectivamente.
Os resíduos de construção e demolição (RCD) também estão ganhando muita atenção quando se trata de sequestro de CO2, pois são ricos em hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) e silicato de cálcio hidratado (C-S-H) que contribui para o desenvolvimento da reação de carbonatação. O uso de RCD na produção de materiais de construção vem sendo estudado como uma alterativa para a minimização dos impactos ambientais associados à geração de resíduos. Estudos recentes também têm abordado o potencial de captura de CO2 da atmosfera pelo uso de RCD na produção de materiais a base de cimento.
A captura de CO2 através da carbonatação natural de argamassas de revestimento pode ser considerada uma medida compensatória para o ciclo de vida das construções. Tanto para a captura de CO2 determinada pela profundidade de carbonatação, que leva em consideração a espessura dos revestimentos argamassados e apresenta resultados em Kg de CO2 por m3 de argamassa, como por análises térmicas onde os resultados apresentados são em porcentagens de CO2 capturado para a quantidade de material estudado, os resultados da dissertação de mestrado Captura de CO2 em argamassas de revestimento através da carbonatação natural, defendida por Lissandra Mazurana, no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, sob orientação da professora Edna Possan, indicaram que a captura de CO2 foi maior para as argamassas mistas com maior quantidade de RCD incorporados.
O melhor balanço das emissões encontrado foi também para as argamassas com RCD. Este resíduo, além de reduzir as emissões também acelera a captura de CO2. As argamassas fabricadas com RCD aumentam a captura de CO2 em até 1,4 vezes em relação às de referência.
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