Publicado em 22 de dezembro de 2022 por Mecânica de Comunicação
Os óleos vegetais de consumo alimentar, ao passar por um processo de fritura, apresentam degradação e alteração das características físico-químicas devido a exposição às altas temperaturas e ao contato com outros resíduos alimentares; gerando um subproduto, o óleo de cozinha residual (OCR), um líquido escuro, viscoso e com odor desagradável e, na maioria das vezes, ainda é descartado, erroneamente, na rede de esgoto, em pias ou vasos sanitários, causando alto impacto ambiental e econômico.
Quando descartado nas redes de esgotamento sanitário sofre processo de incrustação por resfriamento, entope e provoca vazamentos de esgoto causando prejuízos sociais e econômicos. Quando atinge os corpos d’água forma uma película superficial que evita a entrada de luz, diminui a concentração de oxigênio, compromete a qualidade das águas e, logo, danifica a fauna e a flora. Segundo a SABESP, baseado nos limites legais da Resolução CONAMA Nº 430 de 13 de maio de 2011 de lançamento de óleo vegetal em corpos d’água, um litro de óleo pode contaminar até 20.000 litros de água.
Entretanto, quando o OCR é separado e destinado de forma adequada, pode ser utilizado como matéria-prima para novas cadeias produtivas, como a produção de glicerina, sabão, detergente, amaciante, resinas para tinta, detergente, ração animal, lubrificante para motores e produção de biodiesel, neste último caso, obtendo-se ainda, glicerina como subproduto.
Para que o subproduto do OCR seja utilizado como recurso em uma nova cadeia produtiva são necessárias uma série de atividades sequenciais e inter-relacionadas: acondicionamento, coleta, armazenagem e movimentação até o local de produção. Estas atividades, ordenadas desta forma, estão inseridas em uma cadeia de fluxo reverso, dependentes de canais estruturados de logística reversa, nos quais o objetivo principal é movimentar o material pós-consumo, ou seja, o subproduto, ao local de beneficiamento.
Segundo a Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta e Reciclagem de Óleos comestíveis – ECÓLEO, 70% do óleo coletado é destinado para produção de biodiesel e 30% é encaminhado para diversas cadeias industriais que incluem, por exemplo, produção de sabão, ração animal, tintas e velas. A estimativa é que somente 1% do óleo vegetal comestível comercializado é recuperado para reciclagem no país.
Os interesses que movem os negócios de recuperação e reciclagem de OCR são diversos: destinação adequada do resíduo, ganho financeiro e, por parte dos fabricantes do óleo vegetal comestível, a necessidade de se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no sentido de atuar na responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto
Nesse sentido, o biodiesel, por ser um biocombustível cotado como uma alternativa sustentável para substituir os combustíveis fósseis, tem sido a “força motriz” do arranjo produtivo de reciclagem de OCR no Brasil. Para recuperar e tornar o OCR matéria-prima para o biodiesel, é preciso o envolvimento de diversos agentes: produtores de óleo vegetal, PEV (escolas, comércios, associações, universidades, igrejas), estabelecimentos comerciais, indústria de alimentos, organizações do terceiro setor, indústria beneficiadora do OCR e industrias de sabão e biodiesel; formação de redes e, consequentemente, diferentes modelos de negócio e formas de recuperação de valor.
Desde 2010, o OCR tem surgido como uma opção de matéria-prima para produção do biodiesel; em 2017, representou 0,16% do total do biodiesel produzido no país.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Economia circular no Brasil: barreiras e oportunidades para o negócio de recuperação e reciclagem do óleo de cozinha residual, defendida por Melissa Casacchi Antunes, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio, sob orientação do professor Tácio Mauro Pereira de Campos e coorientação do professor Marcos Cohen.
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