Publicado em 02 de fevereiro de 2023 por Mecânica de Comunicação
Os peixes são úteis como indicadores de qualidade ambiental aquática, pois quando ingerem os microplásticos, tem o seu comportamento, bem como a capacidade de perceber predadores alterada, afetando ainda o seu sistema imunológico.
Os contaminantes liberados pelos microplásticos causam efeitos tóxicos ocasionando acúmulo de poluentes e lesões relacionadas diretamente ao nível de poluição do ambiente, seja por metais pesados, pesticidas e resíduos sólidos, provocando um aumento de reações inflamatórias acarretando em áreas necrosadas, alterando também o desenvolvimento gonadal, degenerando as gônadas e a proteína do gene específico do sexo.
Essas alterações podem servir como meio de identificação a ação de compostos químicos em peixes, indicando baixa qualidade do ambiente aquático devido aos efeitos deletérios nos organismos afetados. Relatos de ingestão de microplástico por peixes são frequentes em estudos que abordam espécies marinhas, enquanto que para águas continentais esse tipo de estudo ainda é pouco explorado. Até então no Brasil existem trabalhos todos concentrados na região litorânea. Já para Amazônia não há qualquer registro de microplástico.
Nesse sentido, a dissertação de mestrado Ingestão de partículas de plásticos pelo pacu-curupeté Tometes kranponhah (SERRASALMIDAE), peixe endêmico do Rio Xingu, Brasil, defendida por Priscilla da Silva Barbosa, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará, sob orientação do professor Tommaso Giarrizzo e coorientação do professor Marcelo Costa Andrade, apresentou o primeiro registro de ingestão de microplástico para peixe amazônico, pelo peixe pacu-curupeté Tometes kranponhah, no Rio Xingu.
A pesquisa verificou a ingestão em 21% dos espécimes analisados, podendo-se inferir que o nível de poluição no rio Xingu contribui diretamente para a incidência de ingestão dos microplásticos por parte dos organismos aquáticos. A proporção de ingestão de microplástico é similar ao reportado para outras espécies sul-americanas de peixe de água doce e também estuarina, que varia entre 5 e 45%.
O pacu-curupeté uma espécie de comportamento alimentar herbívoro, que se alimenta principalmente de macrófitas aquáticas. Entende-se que as partículas de microplásticos estejam entrando na dieta do peixe acidentalmente por estarem aderidas às macrófitas Podostomaceae, pois nessas áreas se detém uma maior deposição de partículas de microplásticos, agindo como filtro e possivelmente ocasionando a retenção dessas micropartículas.
A ingestão de filamentos pelos peixes se dá, provavelmente, pela mistura com os sedimentos. Esses resultados corroboram com os resultados encontrados para T. kranponhah, onde os microplásticos tipo filamentos compõem a maioria dos microplásticos ingeridos pelos peixes juvenis. Portanto a ingestão elevada de filamentos se dá pela sua associação com plantas aquáticas.
É provável que os peixes do rio Xingu estejam ingerindo frequentemente partículas de microplástico, considerando que foram encontrados em Tometes kranponhah a montante e jusante da cidade de Altamira, pode-se supor que além de esgotos não tratados e aterros irregulares do município, os ribeirinhos também contribuem com a poluição aquática por resíduos sólidos, tendo plástico como resíduo mais presente.
Este tipo de poluição afeta no desenvolvimento da biota aquática, além disso os produtos químicos encontrados na composição dos plásticos despejados rede de esgoto e nos rios também provocam alterações no comportamento alimentar de peixes e de outros organismos que costumam habitar as águas dos rios. Embora esta prática seja crime ambiental no Brasil, ainda é comum, principalmente, em locais onde a fiscalização do poder público não existe ou é ineficiente.
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