Publicado em 16 de março de 2023 por Mecânica de Comunicação
No contexto da transição para a economia circular (EC), os projetistas são apresentados ao desafio de criar produtos robustos em termos de funcionalidade e recursos empregados, seguindo os princípios da circularidade e considerando que eles serão mantidos em uso pelo maior tempo possível. Isso implica em delinear os requisitos e especificações do produto tendo em mente o propósito desejado e aumentando sua performance sustentável por múltiplos ciclos de vida.
Na fase de conceito e primeira manufatura, deve-se levar em consideração, por exemplo, a reutilização do produto. Para isso, busca-se integrar requisitos como o uso de materiais reciclados, recicláveis, não perigosos e que permitam fácil desmontagem e reaproveitamento de componentes desde as etapas de projeto de produto.
Entretanto, a medição e avaliação de performances circulares ainda não é uma prática comum entre as empresas e estudos e propostas de incorporação gradual de práticas em direção à circularidade têm sido foco de poucos trabalhos acadêmicos. Ademais, também não é claro de que maneira é possível identificar o grau de incorporação de práticas recomendadas pela EC em um contexto real de desenvolvimento de produtos.
Nesse sentido, pesquisadores propõem cinco estratégias em que as organizações podem inovar em direção à EC: “narrowing”, correspondente a reduzir o uso de produtos, componentes, materiais e energia por todo o ciclo de vida, desde a concepção até a recuperação; “slowing”, referente à extensão do uso de produtos, componentes e materiais; “closing”, que se refere a reincorporação ao ciclo econômico dos resíduos pós-consumo, fechando o ciclo; “regenerating”, que engloba o gerenciamento de ecossistemas naturais, uso de materiais renováveis e não tóxicos e uso de energia renovável, e “informing”, que leva em conta o uso da tecnologia da informação e tecnologias disruptivas como suporte às práticas circulares.
O design circular precisa considerar o modelo de negócio para o qual o produto está sendo projetado, uma vez que diferentes tipos de ciclos de produtos ocorrem na EC. Existem ciclos em que se mantém o valor econômico dos recursos ao longo do ciclo de vida, enquanto outros tratam da adoção de recursos que podem ser reintegrados à natureza ou incorporados a outras cadeias. Dessa forma, de acordo com o modelo de negócio selecionado, o design de produtos circulares necessita “enquadrar-se ao propósito”.
Nesse sentido, o processo de design no contexto da EC está alterando seu foco no objeto singular para a criação de sistemas, modelos de negócio, redes colaborativas e visões futuras. Busca-se, assim, a transição do design centrado no objeto para o design centrado em sistemas e serviços. Assim, o processo do design de produtos se torna mais complexo com a adoção da circularidade e que o desenvolvimento de uma solução circular tipicamente requer o envolvimento de mais stakeholders e designers em diferentes áreas e a consulta e inclusão de especialistas nas fases iniciais do processo. Estas preocupações geralmente levam a um processo de design mais longo, com mais iterações e fluxos de feedback.
Ademais, o processo de design se torna mais orientado a dados em um contexto de EC para se tornar capaz de avaliar os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do produto, que precisam ser calculados por todo o ciclo de vida ou pelos múltiplos ciclos de vida. A duração da fase de pesquisa costuma ser mais longa, dado que envolve a compreensão do sistema do qual o produto faz parte, incluindo fornecedores e cadeia de valor. Dessa forma, o rastreamento de materiais e do desempenho dos produtos permite intervenções que podem posteriormente auxiliar a desacelerar e fechar os ciclos de recursos. Isso pode ser feito por meio de técnicas como os passaportes de materiais e o uso de gêmeos digitais.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Proposta de matriz de maturidade para o desenvolvimento de novos produtos sob a perspectiva da economia circular, defendida por Marina Fernandes Aguiar, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, UNESP, Campus Bauru, sob orientação do professor Daniel Jugend.
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