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Publicado em 25 de maio de 2023 por Mecânica de Comunicação

Sistemas agroflorestais podem ser viáveis para a recuperação da Mata Altântica

A Mata Atlântica é um dos biomas considerados mais biodiversos do planeta, identificado como um dos hotspots da biodiversidade, desempenhando papel chave no fornecimento de inúmeros serviços ecossistêmicos que abastecem e possibilitam a vida nas grandes metrópoles brasileiras. Esses serviços podem ser classificados em serviços de provisão (alimentos, água, madeira e fibras), serviços de regulação (clima, enchentes, doenças, qualidade da água), serviços culturais (recreação, espiritual, estético e paisagístico) e serviços de suporte (formação de solos, fotossíntese e ciclagem de nutrientes).

A área com cobertura florestal original da Mata Atlântica cobria uma área aproximada de 1.300.000 Km², distribuída por 17 estados; hoje, após os mais diversos ciclos de ocupação e uso deste território, restam apenas 12,5 % da sua extensão original, se considerados fragmentos isolados acima de três hectares. As florestas são um dos fatores que contribuem para o importante serviço de regulação do microclima, propiciando conforto térmico para as redondezas, purificação do ar e lazer através da recreação e contemplação da natureza. Entretanto, em virtude da tamanha degradação do bioma, esses serviços ecossistêmicos começam a ficar mais escassos, comprometendo a estabilidade das populações humanas que vivem nestes territórios.

Para diminuir a degradação do bioma, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica é a iniciativa mais ambiciosa. Lançado em 2009, o Pacto busca sinergias entre todos os atores (academia, iniciativa privada, terceiro setor, setor público nos níveis locais, regionais e nacional, instituições financeiras e instituições internacionais) que trabalham com restauração florestal na Mata Atlântica, tendo como meta viabilizar a restauração de 15 milhões de hectares até 2050, com metas e monitoramento dos resultados anuais. Até o ano de 2013, o Pacto realizou a gestão coordenada de 80 projetos, que representam quase 60.000 hectares em restauração.

De forma geral, a restauração ecológica trabalha em uma escala de sítios, com foco na biodiversidade e buscando restabelecer as condições dos ecossistemas de referência, enquanto que a restauração de paisagens e florestas trabalha na escala da paisagem (bacias hidrográficas, por exemplo), com foco na funcionalidade dos processos ecossistêmicos e na integração do homem com a natureza de forma mais harmônica.

Nesse sentido, os diferentes tipos de sistemas agroflorestais (SAF) podem ser uma estratégia interessante para restauração do bioma, uma vez que parte dos custos associados à restauração de determinada área pode ser paga com a variedade de produtos que a agrofloresta proporciona. Isso porque enquanto as árvores estão se desenvolvendo, é possível o cultivo de culturas anuais como milho, feijão, mandioca e abóbora. Dentre as espécies de árvores é possível utilizar plantas frutíferas. Essas espécies, quando consorciadas com outras plantas nativas de crescimento rápido, são capazes de formar vegetação que restaura o ambiente e produz alimento ou renda ao longo dos anos.

Produtos florestais madeireiros e não-madeireiros (lenha, carvão vegetal, frutas, cogumelos, raízes, mel, resinas, gomas, plantas ornamentais, sementes, castanhas e plantas medicinais) são possíveis produtos da agrofloresta, que representam commodities importantes a serem vendidos ou negociados, bem como consumidos. A oportunidade criada a partir da Lei Federal n° 12.651 de 2012, que permite a utilização de SAF para o cumprimento da manutenção da área de reserva legal nas grandes e médias propriedades e a recuperação de APP e reserva legal pela agricultura familiar, desde que seguidos alguns critérios, indicam que esta alternativa ganha cada vez mais credibilidade, reconhecimento e espaço dentre as opções de restauração.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado O Potencial dos Sistemas Agroflorestais para Incremento da Biodiversidade e Provisão de Serviços Ecossistêmicos na Mata Atlântica, defendida por Pedro Zanetti Freire Santos, no Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, sob orientação do professor Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero e coorientação do professor Renato Crouzeilles.