Publicado em 17 de agosto de 2023 por Mecânica de Comunicação

Biorremediação é apropriada para remediar áreas de manguezais contaminadas com HPAs

Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) formam uma classe de compostos oriundos da degradação incompleta de combustíveis fósseis, e estão amplamente presentes na natureza. Alguns deles são associados à ocorrência de câncer em humanos e animais, podem causar mutações em organismos presentes no ambiente contaminado e são hidrofóbicos e recalcitrantes, podendo permanecer no ambiente por anos. Os HPAs, devido a essas características, são considerados poluentes prioritários pelos órgãos de controle internacional.

Existem mais de 100 combinações de HPAs, entretanto, a Agência de Proteção Ambiental Norte-americana (U.S. EPA) priorizou 16 HPAs, devido à sua grande ocorrência na natureza, toxicidade e exposição humana, sendo recomendados para análises de sedimentos. Devido ao seu alto potencial de carcinogenicidade e mutagenicidade, algumas instituições internacionais estabeleceram valores de referência para HPAs nos diversos tipos de solo. É possível notar valores limites de próximos a 500 ng g^-1 (0,5 mg kg^-1) para o Fenantreno em todos os limites internacionais, valores estes inferiores aos comumente utilizados em experimentos de biorremediação, próximos a 100 mg kg^-1, mais próximo de valores de contaminações reais.

É importante ressaltar que mesmo após décadas de um derramamento de petróleo, é possível ainda encontrar um ambiente degradado, com fauna e flora afetados pelo derramamento inicial, como no caso do derramamento de 1983 no manguezal da baixada santista, que afetou nitidamente a cobertura vegetal ao longo dos anos avaliados. Além disso, ainda existiam manchas de petróleo retidas no sedimento do manguezal mais de 20 anos após o derramamento.

O Brasil possui cerca de 1,4 milhão de hectares de manguezais, sendo que foram reportadas contaminações por petróleo em toda a costa do Nordeste chegando a atingir o estado do Rio de Janeiro. Isso representa um potencial de poluição de 51% das áreas dos manguezais nacionais. De agosto de 2019 a janeiro de 2020, grande quantidade de óleo foi encontrada ao longo de aproximadamente 3.000 km de costa brasileira, indo da costa norte à costa sudeste.

Apesar dos enormes esforços aplicados para remoção dos resíduos de petróleo nas áreas afetadas, a remoção manual ou mecânica sozinha não remove toda contaminação, sendo então necessário o uso de remediação química ou biológica. Principalmente se tratando de áreas sensíveis como manguezais, devido à sua heterogeneidade, a biorremediação é identificada como o método mais apropriado.

Alguns estudos sobre biorremediação de manguezais relataram que a aeração ativa e a adição de fertilizantes de liberação lenta estimularam significativamente o crescimento de microrganismos degradadores de hidrocarbonetos em sedimentos de mangue contaminados com óleo. O estudo mais recente se tratando de biodegradação anaeróbia de Fenantreno, é através de uma cepa filogeneticamente próxima do gênero Desulfotomaculum, através de rotas de redução de sulfato. Entretanto neste estudo a cultura de degradação foi feita em meio líquido. Também estava presente nessa cultura o gênero Geobacter, com 9,3% de abundância relativa. Este estudo sugeriu, através de análises de GC-MS que a etapa inicial da degradação do Fenantreno se dá através do ácido 2-fenantroico.

É importante salientar que diferentes estratégias de biorremediação tendem a formar ambientes propícios à mudança na comunidade microbiana, principalmente quando se tratando de culturas mistas. Entretanto, a caracterização do ambiente onde a remediação será feita é de extrema importância, visto que diferentes comunidades microbianas são mais adaptadas a determinados ambientes.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Biorremediação anaeróbia de sedimento de manguezal contaminado por fenantreno, defendida por Felipe Filgueiras de Almeida, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco, sob orientação da professora Sávia Gavazza dos Santos Pessôa e coorientação da professora Bruna Soares Fernandes.