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Publicado em 07 de setembro de 2023 por Mecânica de Comunicação

Melhoria nos sistemas de transporte contribui para diminuir os níveis de poluentes atmosféricos

Diversos são os fatores que influenciam as emissões veiculares e, por consequência, os níveis dos poluentes atmosféricos. Na literatura, é possível encontrar fortes correlações entre emissões e hora do dia, dia da semana, uso do solo, clima, volume de tráfego, etc. Em alguns lugares, as relações são mais fortes que em outros, pois variam com as características e dinâmicas de cada região.

Um dos fatores que se mostra como grande influente nos níveis de alguns poluentes é o horário do dia, atingindo CO e o MP, por exemplo. Com os congestionamentos ocasionados nos horários de pico, os principais sendo o da manhã e o do final da tarde – quando há maior fluxo de veículos devido às viagens casa-trabalho –, a combustão incompleta do Diesel torna-se mais frequente, aumentando a emissão desses poluentes. Alguns autores observaram diferenças de até 80% nos níveis de MP2,5.

Ainda, diversos estudos ainda relacionam uso do solo com emissões veiculares. Os resultados mostram uma redução significativa nas emissões quando se aumenta a densidade residencial. Essa relação se dá devido às demandas de transporte. Regiões com alta densidade comercial tendem a atrair muitas viagens durante o dia, aumentando as emissões globais, enquanto zonas residenciais concentram viagens pendulares.

As emissões, por si só, não determinam a qualidade do ar. Fatores de dispersão apresentam-se mais influentes neste quesito, como topografia e condições meteorológicas de uma região. Temperatura, precipitação e umidade relativa do ar, por exemplo, foram as variáveis identificadas como que mais interferem nas concentrações de SO2 e PM10. Direção e velocidade do vento mostraram-se influentes para CO, MP2,5 e MP10. Radiação, também, é um importante fator de oxidação do NOx, e consequente formação de O3.

Dado o impacto que os sistemas de transporte apresentam sobre a qualidade do ar, é plausível que as soluções empregadas neste setor também repercutirão nos níveis de poluentes atmosféricos. A ausência do aspecto ambiental na avalição dos resultados da implantação de uma solução de transporte, como a faixa exclusiva, fornece uma visão parcial dos impactos trazidos por estas alternativas. Sabe-se que o modo de condução de um motorista altera a maneira como o combustível é utilizado e, assim, os poluentes que são emitidos, bem como suas quantidades. Fluxos mais livres ou congestionados em uma mesma via, por exemplo, revelam perfis de consumo e emissão distintos entre si, tendo relação direta com as características operacionais das vias.

A maioria dos autores encontraram melhorias em relação às emissões e à qualidade do ar após implantação da faixa ou corredor exclusivo. Enquanto alguns trabalhos consideraram a migração de veículos particulares para o sistema de transporte público e a melhora de indicadores como velocidade e tempo de viagem, outros verificaram um aumento do congestionamento das vias onde a solução foi ou seria implantada, devido à redução do número de faixas destinadas ao tráfego misto.

Dentre os trabalhos que avaliaram os níveis de poluição a partir da implantação de um sistema BRT ou BRS, quase todos apresentaram melhoras. Apenas um deles mostrou que serviços como o BRT e o BRS podem melhorar as condições da qualidade do ar, mas não é verdade para todos os sistemas, momentos do dia, poluentes ou em áreas urbanas carregadas.

Constata-se que a implantação de corredores exclusivos de transporte público pode trazer melhorias para o problema de poluição atmosférica em centros urbanos. Entretanto, essa não é uma verdade absoluta, estando diretamente dependente das condições climáticas, características estruturais, e até da tecnologia dos veículos utilizados.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Método para avaliação Ex Post dos níveis de concentração de poluentes provenientes de corredores de transporte, defendida por Wendy Fernandes Lavigne Quintanilha, no Programa de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará, sob orientação do professor Bruno Vieira Bertoncini.