Publicado em 12 de dezembro de 2024 por Mecânica de Comunicação
O sistema de alimentos vigente se constituiu a fim de suprir as demandas de um crescimento populacional, econômico e urbano acelerado. Usa o modelo baseado em “tirar-produzir-consumir-descartar”, que assume que o crescimento econômico pode se basear na abundância de recursos e descarte de resíduos ilimitado.
O sistema linear de alimentos gera, atualmente, um volume significativo de desperdício, poluição e degradação ambiental. O mais surpreendente é que, mesmo quando a população opta por alimentos mais saudáveis, a forma de produção e como são tratados os subprodutos desses alimentos ainda são prejudiciais para a saúde. Além disso, a presente economia mundial desenvolveu cadeias de suprimentos interconectadas, interdependentes e complexas, o que significa que eventos climáticos podem interromper toda uma cadeia de suprimento de matérias-primas. Isso porque as reservas e a produção dessas matérias-primas não estão distribuídas de forma uniforme pelo mundo.
Nesse sentido, o sistema circular é visto como chave para a criação de sociedades mais resilientes, pois os modelos de negócios são apoiados em designs que permitem reutilizar produtos, remanufaturar componentes e reciclar materiais. O relatório de Cidades e Economia Circular dos Alimentos, da Fundação Ellen MacArthur, ao considerar um sistema circular dos alimentos, aponta três ambições a serem perseguidas: adquirir alimentos produzidos de forma regenerativa e, quando fizer sentido, localmente, aproveitar ao máximo os alimentos e desenvolver e comercializar produtos alimentícios mais saudáveis.
A produção regenerativa de alimentos vai além do orgânico, pois não apenas reduz os insumos sintéticos (por exemplo, fertilizantes sintéticos, agroquímicos), mas visa apoiar os sistemas naturais, construindo solos saudáveis e aumentando a biodiversidade. As práticas regenerativas incluem, mas não se limitam a: agroecologia, agrossilvicultura, permacultura, pastoreio gerenciado, agricultura natural com orçamento zero, silvicultura e plantio direto. Ao usar práticas regenerativas, a produção de alimentos pode se adaptar melhor aos choques das mudanças climáticas, além de ajudar a mitigar as mudanças climáticas.
Algumas estratégias podem ser adotadas para evitar ou eliminar as perdas e o desperdício de alimentos. Exemplo disso é o aproveitamento, por parte das marcas envolvidas, de vegetais e frutas considerados feios como ingredientes para produtos como pastas e papinhas para bebês. Outra medida é aplicar descontos em produtos prestes a vencer.
Em um sistema circular de alimentos, as cidades agiriam, atribuindo valor aos coprodutos não alimentícios, ao transformá-los em fertilizantes orgânicos, medicamento e bioenergia, por exemplo. Isso impulsionaria a bioeconomia, ao mesmo tempo que promoveria novas fontes de receita, eliminando o conceito de resíduo.
Por fim, vale destacar que a gestão sustentável de resíduos sólidos deveria ser executada e implementada pelos municípios das cidades no Brasil, a fim de garantir a destinação, o descarte, e a reciclagem da maioria dos resíduos sólidos gerados localmente.
É importante ressaltar que as três ambições descritas no relatório se reforçam mutuamente e que, cada etapa da cadeia de produção, desempenha uma função na transição para um sistema alimentar circular. Em linhas gerais, os produtores de alimentos têm o papel de perseguir práticas regenerativas, as marcas de alimentos buscam valorizar e reduzir resíduos, os varejistas apoiam o consumo local e, por fim, os gestores de resíduos e os municípios garantem a coleta adequada e a valorização dos resíduos orgânicos.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Restaurantes circulares: caso de ensino sobre economia circular dos alimentos, defendida por Michael Jefferson Amorim de Oliveira, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, sob orientação do Jorge Juan Soto Delgado.
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